Leituras da semana
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Queridos amigos,

O céu desabou nos braços do Rio.

Assim como a lama marrom, o desespero invadia os jornais, a tevê, ruas e esquinas, todo canto que mais se olhasse.

Água que não se fartava de cair. Barro que não se fartava de descer. Eu mesma, que, arteira, apreciava um banho de chuva, tomei uma ducha tão forte, em breves minutos da quarta-feira que o cabelo pingava como saído do mar.

Falando em gente avoada, enquanto a água me surpreendia e se despejava em pingos grossos nos meus cílios (num dia que me pareceu muito firme e claro), olhei para cima, para o céu que arreganhava um sorriso negro e malévolo às 9 da manhã.

Espantosamente lembrei das garças que revoam nos arredores da minha rua. Das minhas leves e brancas garças. Ideia ridícula essa, claro, eu pensando em garças enquanto voava encolhida pelas calçadas, aproveitando marquises e rodeando poças. Coisa de doido, só podia, eu pensando fixamente em aves enquanto tomava umas golfadas de ar antes de voltar a correr desesperada, nos quarteirões que ainda faltavam para chegar em casa.

Onde estariam elas? Frágeis como nós, seus ninhos desfeitos, os filhotes em perigo. Sumiram desde o início do ciclone. Frágeis como nós, água suja para beber, comida rareando. Para onde teriam ido? Onde se esconder quando tudo o mais falta? Casa, família, água, comida, tudo desabando no vendaval.

De certa forma, a tolice sem tamanho virou uma pergunta aflita e triste que me fez esquecer da chuva pesada. Frágeis como nós, nem todas sobreviveram.

Às vezes nos imaginamos mais fortes do que leves e brancas garças. Mas o céu nos lembra que não é verdade.

Quinta-feira passada encontrei uma a esmo, sob o sol, andando sem rumo num campo gramado da Praça da Bandeira. Deve ter perdido tudo.

Tomara que - assim como tantos - ela encontre o que precisa para continuar.

Dicas da semana (10.04.2010 a 16.04.2010)
Lançamentos
 

- segunda, dia 12, Fred Góes autografa 'O poço de Campaná', a partir das 19h na Travessa de Ipanema. Também na segunda, na Bienal de Fortaleza, a REBRA lança a nova antologia 'Show de Talentos em Prosa e Verso', a partir das 19h.

- também na segunda, dia 12 de abril, Tanussi Cardoso comemora os 30 anos de seu primeiro livro com o lançamento da coleção '50 poemas escolhidos pelo autor', publicado pela Editora Galo Branco. O coquetel é na Casa de Cultura Laura Alvim, a partir das 18h.

- por conta das chuvas, o lançamento de 'Um instante a pulsar na memória', de Gisele Joras (a escritora da novela 'Bela, a Feia'), foi transferido para terça-feira, dia 13. Mesmo horário e local: Travessa do Leblon, 19h.

- quinta-feira, 15, Max Mallman, roteirista do seriado Grande Família, lança 'O centésimo em Roma', a partir das 19h na Travessa de Ipanema.

- para deixar na agenda, dia 26.04, segunda depois do feriadão dobrado de Tiradentes e São Jorge, é a vez de Suzana Vargas lançar seu novo livro. O evento de lançamento acontecerá no auditório Machado de Assis, na Biblioteca Nacional, a partir das 14h.

- domingo, 18.04, Pilar conta suas aventuras na Grécia, a partir das 16h, com direito à 'contação de histórias'. A capa, assim como o convite (que vai abaixo), ficaram lindos! Tudo de bom para as queridas Flávia e Pilar! Eu vou.

 


Eventos

- segunda, 12, às 20h, tem Ponte de Versos na livraria DaConde. Bela oportunidade para ouvir poesia e Shakespeare entre cafés e livros numa noite fresca e úmida - quase inglesa - de abril.

- terça-feira, 13, às 18h30, Zuenir Ventura discute o tema 'O Rio nosso de cada dia' no Centro Cultural Ação da Cidadania, segunda edição do programa Leitura em Ação.

- em SP, quinta-feira, 15.04, às 21h, em única apresentação, Vitor Ramil lança o cd/dvd 'délibab', com participação de Carlos Moscardini no Sesc Pompéia. 

- o CCJE - Centro Cultural da Justiça Eleitoral, além de exposições, tem ótima programação gratuita no Centro do Rio (...).

- a Oficina Editores indica seu roteiro poético (...).

- o IV Festival Internacional da Poesia já tem data: 14 a 16.05.2010, realizado pela Usina de Sonhos, em Dois Córregos/SP.

- sexta-feira, tem happy hour poético na Travessa1: a segunda edição do evento Cidadeatravessa#2, apresentado por Clóvis Bulcão e Paulo Scott, com leituras dos amigos Ana Paula Maia, Elaine Pauvolid, Luis Serguilha, Mariel Reis, entre tantos, e outras performances... O convite vai abaixo.

 


 

Cursos e concursos

- a Estação das Letras convoca para oficinas e workshops de abril. Com Marcelino Freire, Luiz Ruffato e Claudia Lage (...).

- o Instituto Itaú Cultural inscreve para o edital 'Rumos Literatura 2010-2011', de 03.03 a 31.07.2010. (...) Edital completo e regulamento no site do Itaú Cultural. Notícias e comentários no blog Rumos.

- o Programa de Capacitação em Projetos Culturais, parceria do MinC com o SESI, FGV e Instituto Itaú Cultural, que objetiva formar agentes culturais, chega a mais seis cidades do interior nordestino, Garanhuns inclusive.

- o III Festival de Poesia Falada do Rio de Janeiro, promovido pela APPERJ e Oficina Editores, inscreve poetas até 13.08.2010. Premiação dia 17.09 no Auditório Machado de Assis, Biblioteca Nacional, no Centro do Rio, às 17h. 


Novidades

- está fervendo o Littera Tour desse mês... quase me vi no 'Game On', pintura de Jack Vettriano. Ai...

- a Agência Riff informa que Adélia Prado entrega seu novo livro à Record. Assim como a turma da Agência, 'a gente espera, a gente espera'.

- Danilo Marques remodelou o site na plataforma Wix... Ficou uma graça!

- Oscar Araripe exibe, apenas para amigos, as telas da sua próxima exposição 'Viver de Cores', que chegará só no dia 1º de setembro ao Rio de Janeiro (Galeria Manuel Bandeira, na ABL).

- Leonardo Villa-Forte, que escreve no blog Catarse Controlada, está de parabéns com o novo projeto, MixLit. Simplesmente, ele faz mashups com textos literários, à moda dos DJs de Ibiza. Como se não bastasse, ainda referencia um ótimo site para consultas: o Fórum Virtual de Literatura e Teatro da UFRJ (...). Vale conferir!

(...)

- de Belém, o querido amigo e poeta Abílio Pacheco, dá a nota do lançamento de 'O poeta - novela poêmica': dia 23.04, em Ponta de Pedras, Ilha do Marajó.

- a Record re-lança 'As meninas da esquina: Diários dos sonhos, dores e aventuras de seis adolescentes do Brasil', de Eliane Trindade. O tema não pode ser mais atual. Durante dois anos, a autora, a jornalista premiadíssima Eliane Trindade, registrou o dia a dia dessas adolescentes, e os relatos emocionantes da vida de seis meninas entre 14 e 20 anos que se prostituíam para sobreviver, mas que nunca abandonaram seus sonhos. O livro, editado originalmente em 2005, inspirou o filme 'Sonhos roubados', de Sandra Werneck (também diretora de 'Cazuza, O tempo não pára'), que estreia em abril nos cinemas com Marieta Severo e o rapper MV Bill no elenco. A nova capa (já com as atrizes que interpretarão as meninas de Eliane) fecha a edição das dicas dessa semana.

Ufa! Semana cheia...


Fontes: caderno Ideias&Livros, Jornal do Brasil, Agência Riff, Record, e mailing pessoal da autora.


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Leitura de bastidores

- Nos bastidores do mercado editorial: as entrevistas de maior repercussão do Jornal Lector. Márcio Vassallo. Belém: Cejup, 1997.

 

Em uma primeira impressão, passaram-se somente treze anos. Porém, quando abrimos o livro 'Nos bastidores do mercado editorial' e começamos a ler perguntas, respostas e constatações de entrevistado e entrevistador, é fácil reparar que passou muito mais do que isso. Passou um mundo inteiro de ideias. Passou uma quase-eternidade de tempo, ou, como Marco Lucchesi diria, um tempo vivido muito mais espesso do que o tempo real.

Ler nesses bastidores por onde Márcio transitou é adentrar na floresta densa dos livros que nos precederam, a nós que hoje escrevemos leves e faceiros em blogs e sites, e tuitamos até mesmo para comentar com o próprio umbigo.

Todos os entrevistados alcançaram suas glórias particulares. Mesmo os que não puderam chegar a 2010. Quase como se Márcio tivesse dado uma sorte danada para todos eles.

(...)

E assim também se despem perante o gravador de Márcio, Fernando Sabino, Gengis Freire, Marcos Rey, Patrick Drouot, Paulo Coelho (que ainda caminhava em Copacabana antes de se mudar para Saint-Germain), Roberto Feith e Sérgio Machado, Ziraldo e Zuenir Ventura. Como tantos outros depois desses também se despiriam, às vezes nus, às vezes com suas máscaras preferidas, nas entrevistas mensais publicadas online na Agência Riff.

'Nos bastidores do mercado editorial' é leitura - também desobrigatória - para aqueles que buscam registros do que aconteceu na última década, nesse rio que desaguou no hoje das editoras, das livrarias, de cada biblioteca pública e privada, em cada prateleira de livros dentro das nossas casas. 

Claro que eu ressaltei o que mais me perturbou e assombrou. Não poderia ser diferente. Da mesma forma, Márcio registrou na abertura de cada entrevista aquilo que possivelmente mais lhe tirou o ar; assim como cada leitor encontrará suas frases e parágrafos preferidos, como se catasse entre pérolas espalhadas pelo chão aquelas que mais brilhem sob seus olhos.

O importante, acima de tudo, é - como muito bem dito na orelha do livro - poder olhar para essas outras ruas, para essas tantas casas, e perceber uma paisagem de ideias que precede a paisagem de hoje. Como se pudéssemos olhar um retrato antigo, um recorte em sépia da nossa própria infância. E perceber tudo o que foi feito enquanto estávamos brincando, aprendendo e - por que não? - inocentemente lendo.


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A casa das claraboias - parte final


Foi assim durante um tempo. Quando a meninice subia até o telhado. Quando ela tentava imaginar as coisas como eternidades.


Mas, a eternidade ainda não era isso.

De repente, quando ela nem esperava, tudo começou a mudar. Ele começou a partir, primeiro pelos sonhos, depois de corpo inteiro.

O inverno chegou junto da manhã em que os móveis foram cobertos com lençóis brancos, iguais à ventania que descabelava as folhas porta adentro.

Não adiantou fazer manha, nem estalar tacos, nem rachar a pintura, nem enferrujar parafusos. Fazia tempos que ele já não reparava nas suas sombras.

Sozinha, ela passou a ser cada estação do ano, enquanto elas também passavam por ela. Se era verão, aprendia a guardar o sol nos tecidos. Se era primavera, guardava a chuva nos degraus do porão. Se era outono, ela fazia a hera avermelhar nos muros. Colecionava tudo com carinho, as marcas dos amores, dos reflexos, das horas.

Aprendeu também gostar da noite. Porque é no escuro que a luz sobressai.

Com o tempo, passou a chegar gente para fotografá-la. Primeiro era apelido, depois virou nome. A casa das claraboias. Diziam que era por causa dos efeitos da luz, que vinha dos fachos iluminados dos vitrais. Diziam que ela era mágica. De manhã, a claridade se deitava para dentro, tingindo os cômodos. Quando chegava o fim da tarde, era como se a casa acendesse, só para que os tons furta-cores se exibissem do lado de fora, vincando o negro-azulado da noite.

Durante um tempo ela ainda esperou que o trinco se desfizesse e a porta escancarasse com a mão dele outra vez. Mas não aconteceu e ela deixou de esperar. E foi brincar sozinha com suas luzes, com suas cores. Ela foi ser. Já não era mais a casa abandonada de alguém. Ela apenas era.

De certa forma, isso trouxe uma beleza estranha, uma suave melancolia que combinava com as linhas já antigas no tempo. A saudade de outro tempo a vestia, enquanto ela permanecia ali, imponente e firme. Com os recortes e reentrâncias na face endurecida. Com os tantos reflexos.

Apesar da saudade, ela havia descoberto como ser para sempre.

A eternidade havia chegado justo quando ela aprendeu a iluminar sombras.

De repente, quando ela nem esperava, tudo começou a mudar. Ele começou a partir, primeiro pelos sonhos, depois de corpo inteiro.

O inverno chegou junto da manhã em que os móveis foram cobertos com lençóis brancos, iguais à ventania que descabelava as folhas porta adentro.

Não adiantou fazer manha, nem estalar tacos, nem rachar a pintura, nem enferrujar parafusos. Fazia tempos que ele já não reparava nas suas sombras.

Sozinha, ela passou a ser cada estação do ano, enquanto elas também passavam por ela. Se era verão, aprendia a guardar o sol nos tecidos. Se era primavera, guardava a chuva nos degraus do porão. Se era outono, ela fazia a hera avermelhar nos muros. Colecionava tudo com carinho, as marcas dos amores, dos reflexos, das horas.

Aprendeu também gostar da noite. Porque é no escuro que a luz sobressai.

Com o tempo, passou a chegar gente para fotografá-la. Primeiro era apelido, depois virou nome. A casa das claraboias. Diziam que era por causa dos efeitos da luz, que vinha dos fachos iluminados dos vitrais. Diziam que ela era mágica. De manhã, a claridade se deitava para dentro, tingindo os cômodos. Quando chegava o fim da tarde, era como se a casa acendesse, só para que os tons furta-cores se exibissem do lado de fora, vincando o negro-azulado da noite.

Durante um tempo ela ainda esperou que o trinco se desfizesse e a porta escancarasse com a mão dele outra vez. Mas não aconteceu e ela deixou de esperar. E foi brincar sozinha com suas luzes, com suas cores. Ela foi ser. Já não era mais a casa abandonada de alguém. Ela apenas era.

De certa forma, isso trouxe uma beleza estranha, uma suave melancolia que combinava com as linhas já antigas no tempo. A saudade de outro tempo a vestia, enquanto ela permanecia ali, imponente e firme. Com os recortes e reentrâncias na face endurecida. Com os tantos reflexos.

Apesar da saudade, ela havia descoberto como ser para sempre.

A eternidade havia chegado justo quando ela aprendeu a iluminar sombras.




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Seriam garças?


seriam garças?
a despirem lentamente
suas vestes
suas demoras
suas mágoas?

seriam garças?
a rodearem esperas
vertigens e voos
a enrodilharem miragens
nesse manso tempo?

seriam garças?
estampadas levemente
em vontades nuas
escondidas
nessas tuas aragens
de mudo lamento

seriam garças?
essas brancas esgarçaduras
do vento
ou apenas sou eu
entremeada
que respiro nelas?


A promoção 'O véu' continua...

A promoção dos sites Sobrecapa, Canastra de Contos e Paula Cajaty, continua valendo: é só se inscrever até dia 16 de abril, para concorrer ao romance thriller "O véu", autografado pelo autor Luis Eduardo Matta.

(...)

Para concorrer, veja o regulamento da promoção no site Sobrecapa.

Os resultados das Promoções anteriores também estão divulgados lá.
 
Um beijo leve e branco,
de se perder
só para se encontrar
outra vez,

Pau
la

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