Leituras da semana
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Queridos amigos,
Em certas ocasiões somos chamados a olhar o mundo por outros ângulos. Desafiados a encontrar esses ângulos mais raros, mais difíceis, mais custosos. Às vezes dá até vontade de desistir, enrolados naquela preguiça do cobertor, na facilidade do ar-condicionado: para quê sair do mundinho seguro em torno de nós?
As desculpas chegam de roldão. É o cotidiano que muda, é a nossa rotina confortável que se desorganiza, é aquele livro que estávamos lendo e terá de ser abandonado por uns tempos, é a dor de cabeça de ter que se reprogramar: é o risco inerente a tudo. Pior do que isso, ainda chega a dúvida de que algo de errado possa acontecer e então vamos catando todo tipo de possíveis problemas no horizonte.
Acontece que, quando a mudança é aceita de boa vontade, nada de errado acontece e os problemas vão se dissipando assim feito chuva espalhada ao vento, assim feito tempestade que se anuncia ao longe, e não cai.
Nesse Carnaval eu aceitei um convite desses. Um convite provocante, arriscado, uma aventura quase perigosa. E a tempestade ficou lá longe, só ameaçando, enquanto os dias se seguiam azuis e seguros, oferecendo só para mim seus aspectos mais inquietantes, suas cores mais desmedidas, e desabrochando, só para mim, seus reflexos mais preciosos de luz e sombras.
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Dicas da semana (13.02.2010 a 26.02.2010) | Lançamentos  - sexta-feira, dia 19.02, a partir das 16h, Diva Pavesi
autografa 'Rio: carnaval, social, clubs' na livraria Arlequim, no Paço,
Centro do Rio. O evento promete... - na próxima
quinta-feira, dia 25.02, às 17h30 na Travessa 1, terá sessão de
autógrafos do livro 'O que é poesia?'. O lançamento é precedido do
debate 'Os caminhos da poesia contemporânea...' com Affonso Romano de
Sant'Anna, Antonio Cicero, Márcio-André, Tavinho Paes, Luis Serguilha e
outros. Cursos e
concursos - A Alternativa Cultura abre
inscrições para sua 'Oficina de produção cultural', a partir do dia
04.03, sempre às quintas, das 18h30 às 20h30. A inscrição pode ser
feita pelo próprio site da Alternativa
Cultura.
- semana que vem, na Estação das Letras, José
Castello e Maria Helena Lemgruber iniciam a oficina 'Extremos: círculo
de leitura de ficções radicais', com a leitura de Clarice Lispector,
dias 25 e 26, das 18h às 21h, e dia 27, das 10h às 13h. Também no
sábado, o Laboratório de Vivência Literária, sob comando de Luiz
Ruffato, das 10h às 16h. É bom correr, as vagas são limitadas.
- Instituto Camões abre novos
cursos de literatura na modalidade de ensino a distância. Veja no site do Instituto. -
estão abertas as inscrições para a pós-graduação 'Literatura, Arte e
Pensamento Contemporâneo', do Departamento de Letras na
PUC-Rio. O primeiro período do curso será de 09.03 a
27.07.2010, sempre às terças e quintas, das 19h às 23h. -
o Prêmio
Portugal Telecom de Literatura 2010 recebe inscrições até 7 de
março. Podem concorrer romances, autobiografias, livros de conto,
poesia, crônica ou dramaturgia escritos originalmente em português,
desde que editados no Brasil entre 01.01 e 31.12 de 2009. O primeiro
colocado leva R$ 100 mil. - já disponível a
inscrição para a Bienal de SP 2010, que acontece entre os dias 12 e 22
de agosto. A inscrição deverá ser enviada para o email da CBL,
eventos@cbl.org.brEste endereço de e-mail está
protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para
vê-lo.
. Eventos
e novidades - dia 3 de março, quarta-feira,
às 20h, a Casa do Saber da Lagoa apresenta 'Celebrando Gullar: palavra,
música e imagem nos 80 anos de um mestre'. O encontro reunirá, ainda, os
imperdíveis Adriana
Calcanhotto e Antonio Carlos Secchin. -
está online a revista cultural EisFluências
idealizada e produzida, em formatos virtual e impresso, pelo grupo
luso-brasileiro 'Ecos
da Poesia', com textos do poeta Oleg Almeida. -
também está disponível a 41ª leva da Revista
Diversos Afins. - o autor e agente literário
Andrey do
Amaral, integrante da Confraria do Bem, está ajudando a promover
eventos literários-gastronômicos em favor da Chamaeleon,
oscip que dá assistência a crianças e adolescentes vítimas de violência e
maus-tratos. Assim, durante todo o mês de fevereiro, o livro 'O Máximo e
as Máximas de Machado de Assis', de autoria de Andrey, está sendo
oferecido aos clientes junto à sugestão da casa. Toda a renda em
direitos autorais será revertida para a Chamaeleon e a
ação tem apoio da Rede Solidária Anjos do Amanhã (TJDFT).
Em março o projeto continua com outro autor. - o
Manual da Flipinha 2010 já está online no blog da
Flip (baixe o pdf aqui). Vale conferir os autores convidados para a
edição desse ano, que terá estrelas como Adriana
Falcão, Eva Furnari, Roger Mello e Stella Maris Rezende,
apresentados individualmente no manual.
Fontes: caderno Prosa&Verso, jornal O Globo, suplemento
Ideias&Livros, Jornal do Brasil, e mailing pessoal da
autora. Leia mais...
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A casa da maresia - parte final
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Mas o mar estava com uma cor diferente de todas as outras noites. O mar estava brilhando.
O menino desceu da
soleira e foi olhar de pertinho. Parecia que tinham mil vagalumes
azuis dentro da água do mar. Ele ficou maravilhado com aquela cena,
que entrava por dentro dele para nunca mais sair. E deixava a certeza
de que, mesmo na ausência de todas as luzes, um brilho poderia
surgir na escuridão, assim, feito mágica.
Esse tinha sido o
presente mais bonito que ele tinha recebido. Mais inesperado. Um
presente da maresia, só para ele.
Nada do que ele levou,
a maresia comeu de verdade, exceto pelo joguinho eletrônico que nem
tinha saído da mala, e que pifou de vez.
Mas o menino deixou de
reparar em joguinhos e brinquedos. Não porque o pai tinha ligado,
antes das férias terminarem, explicando que iria viajar por uns
tempos, a trabalho, garantindo e jurando, numa jura soluçada, que
voltaria para vê-lo de vez em quando. Mas porque, de algum estranho
jeito, a maresia mudou a forma de ele ver as coisas.
Na verdade, ao ouvir
aquelas explicações no telefone - um tipo de explicação que
precisa existir, mesmo que nunca chegue a explicar nada -,
compreendeu que o pai precisava buscar a atenção dele de volta.
Soube que a mãe precisava ficar um tempo em silêncio até que
parasse de sentir vontade de continuar gritando.
E quando o telefonema
terminou, foi como se ele sentisse um alívio roçando nas palavras
do pai, foi como se ouvisse a mãe suspirando para o horizonte cinza
da janela, como ela costumava fazer quando estava muito cansada de
gritar.
Ele foi devagarinho até
o alpendre da casa, onde o tio descansava na rede.
- Sabe, tio. A maresia
me ensinou uma coisa: o que come a alma das coisas é a ausência.
O tio não respondeu
nada, apenas assentiu com o olhar e com a quietude.
E os dois ficaram ali
naquela tarde, no alpendre, vendo a tarde se despedir das montanhas e
ir mudando de cor por trás da neblina salgada do mar até
desaparecer e encher o céu de pequenos brilhos azulados.
A despeito de tudo,
aquele mesmo brilho estaria sempre guardado por dentro dele, e nem a
maresia mais voraz, nem a escuridão mais desesperadora o poderiam
sufocar. Bastaria apenas estar bem atento e em silêncio, e assim
toda ausência deixaria de existir.
Fim
Leia o conto na íntegra...
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Vários autores. Um fio de prosa. Org. equipe Global Editora. São Paulo:
Global, 2004. (Coleção antologia de contos e crônicas para jovens) Quem
tem filhos na faixa dos 8 aos 12 anos sabe a dificuldade que é
encontrar uma literatura boa e que eles gostem. As livrarias dificultam
a tarefa, oferecendo livros belíssimos com um conteúdo simples demais,
como é o caso de 'O diário de um banana', diários de princesas e outros
semelhantes. As escolas também não facilitam: separados por idades,
geralmente os livros indicados para a turma que não é criança nem
adolescente são um tiro n'água: a gente compra e eles ficam lá, boiando
sem rumo por todos os cantos da casa. 'Um fio de
prosa' é, com certeza, um livro diferente, e isso já ficou explícito
por sua indicação ao Prêmio Jabuti 2005. Primeiro porque reúne os
principais nomes da literatura brasileira pós-anos-dourados, como uma
espécie de menu-degustação-literária. Segundo, porque as histórias são
curtas, o que dá uma sensação de dinamismo, mudança, rapidez, enfim, de
que é mais fácil atravessar sua leitura, o que agrada bastante essas
crianças que já nascem 'sem tempo'. Finalmente, cada texto concentra a
narrativa, o corte, o perfil e a identidade de cada um dos escritores.
São histórias inteligentes e isso ajuda bastante na hora de conquistar
alguém com tantas outras paixões. Mario Quintana e Cora Coralina iniciam o livro com contos engraçados, críticos, irônicos. Manuel Bandeira,
com seu 'Zeppelin em Santa Teresa' é bem mais longo, mas faz um raio X
da pacata vida em Santa Teresa e da esperteza das crianças naqueles
longínquos anos 60. Ignácio de Loyola Brandão, Cecília Meirelles e Rachel de Queiroz
mapeiam a chegada dos novos tempos, das modernidades ao Rio de Janeiro,
entre as construções no centro da cidade, os carros engarrafados e os
brinquedos eletrônicos que foram cercando as crianças até o que vemos
hoje. Lygia Fagundes Telles e Marina Colasanti optam por uma narrativa de contornos mais dramáticos, mas não menos sedutoras. E Carlos Drummond de Andrade traz a cereja do bolo, com a irreverência de 'João Brandão adere ao punk'. 'Um
fio de prosa' é um livro iniciático para que o jovem-leitor dessa
primeira década do século XXI possa absorver um pouco de cada um desses
autores e optar por uma viagem cada vez mais profunda e intensa com
aquele autor que lhe proporcione maior inquietude, maior espanto, maior
assombro, enfim, um prazer literário especial.
Leia mais...
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Um beijo desafiado, num convite irresistível, impossível de declinar.
Paula
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