Leituras da semana
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Queridos amigos,
Já pressinto o ano acabando, sublime e silencioso feito estiagem de chuva. O sereno da primavera se dissipa aos poucos, à medida em que a claridade retoma seu espaço e segue invadindo ruas e jardins, atravessando o corpo com calor e luz.
O passeio a Ouro Preto, que desbordou os limites literários dos Forum das Letras e das Letrinhas, pareceu um filme estrangeiro, desses intensos, de diálogos fortes e pouca luz, daquele tipo que a gente não se contenta quando acaba.
Muito além da cultura gravada em cada detalhe do barroco, Ouro Preto é a própria joia encravada nas montanhas, e o que há de mais importante que se pode extrair dela é a paixão, a força e a tenacidade dos ouro-pretanos.
Garçons que eram estudantes universitários atendiam em antigas senzalas transformadas em adegas chiques; guias turísticos poliglotas com Facebook e amigos virtuais estrangeiros que confessaram estarem juntando dinheiro para irem a Paris; o olhar de cada vendedor brilhando mais que a lapidação das pedras, quando eu perguntava se era bom morar na cidade torneada de ladeiras.
O Forum organizado pela UFOP, que já chega ao seu quinto ano, mais que tudo, promove uma transformação radical na cidade. Uma transformação que não precisa derrubar prédios históricos, cortar árvores ou rearrumar a disposição das ruas. Essa transformação invisível acontecia por dentro de cada cidadão que encontra no livro um passaporte para a própria independência, para a realização dos seus sonhos mais impossíveis.
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Dicas da semana (02.11.2009 a 06.11.2009) |
Lançamentos  - dia 3, terça-feira, Edney Silvestre,
chega do pré-lançamento de seu novo romance no Forum de Letras de Ouro
Preto e lança oficialmente 'Se eu fechar os olhos agora', às 19h, na Travessa do Shopping Leblon. - dia 4, quarta, às 19h na Travessa do Shopping Leblon, Lenny Niemeyer autografa 'Delícia receber', enquanto Patrícia Carvalho-Oliveira lança '3, um romance para ler de uma só vez', também às 19h, na Letras&Expressões
do Leblon. O livro 'O insólito e seu duplo', integrante da coleção
clepsidra nº 7 (2009), org. por Flavio García e Marcus Alexandre Motta,
terá noite de autógrafos no dia 4 de novembro (...) - dia 5, Ticiana Studart assina 'Fora do normal' a partir das 19h na livraria DaConde.
Na Travessa do Shopping Leblon, às 19h, Ricardo Alexandre lança 'Nem
vem que não tem: a vida e o veneno de Wilson Simonal', com debate entre
os convidados Max de Castro e Simoninha. Na livraria Argumento, às 19h, Monique e Nicole de Laragotti Sasso lançam 'Simpatias para crentes e descrentes'. (...) - a Antologia Cidade,
organizada por Abílio Pacheco e com textos de autores de diversas
cidades do Brasil, será lançada no dia 7 de novembro, às 19h, na XIII Feira Pan-Amazônica do Livro
(estande do Escritor Paraense). Em seguida, o livro também será
re-lançado dia 23 de novembro, no II Salão do Livro do Baixo Amazonas,
em Santarém, e, por fim, na XI Feira do Livro de Marabá. Eventos - Desde o dia 30 de outubro, teve início a 55ª Feira do Livro de Porto Alegre. Vários autores imperdíveis estão na programação, como Affonso Romano de Sant'Anna, Márcio Vassallo, Fabrício Carpinejar, Marina Colasanti, Marcelino Freire, Vitor Ramil, Elisa Lucinda, Edney Silvestre, Sasa Stanisic, Marta Lagarta, Luiz Raul Machado, Rosa Amanda Strauz, Luciana Savaget, Cláudia Tajes,
Cíntia Moscovich, Paulo Betancur, Anna Claudia Ramos, Moacyr Scliar,
Alcione Araújo, e outros tantos que eu - infelizmente - ainda não
conheço. - A Fliporto 2009,
homenageando João Cabral de Melo Neto, abre as portas na quinta-feira
dia 5 de novembro e segue até o domingo, dia 8. Entre os autores mais
disputados, Antonio Carlos Secchin, Eduardo Galeano, Inês Pedrosa, Jorge Díaz e Laurentino Gomes, além de Cristóvão Tezza e Tatiana Salem Levy. - no Rio de Janeiro, o destaque do Blog Letras - Saraiva Conteúdo vai para a Paixão de Ler 2009,
em sua 17ª edição, que vai de 5 a 12 de novembro passando por diversos
espaços públicos e privados, como a ABL, a Quinta da Boa Vista,
Biblioteca Nacional, Aterro do Flamengo, entre outros. -
a XIII Feira Pan-Amazônica (que infelizmente não ganhou site oficial, mas somente o blog organizado por iniciativa do professor Alfredo Garcia) acontece de 6 a 15 novembro, disputando
autores e público com a Feira do Livro de Porto Alegre e Fliporto. Vai
ter muita gente precisando de um clone para cobrir tantas demandas
literárias. Cursos e novidades- de 04 a 25/11, às quartas-feiras entre 14h30 e 16h30 na Estação das Letras, Tova Sender, fala sobre a Árvore da Vida e sua influência na natureza e no homem. - a revista Escritoras Suicidas informa a nova edição nº 37, disponível online. - Aliás Revista informa a terceira edição do ano, disponível no site. - Germina Literatura também publica a nova edição, dedicada a Iosif Landau e Aníbal Beça. - Márcio Fortes dá as dicas e explica os efeitos da valorização do real no vídeo do Globonews. Como ele avisa, a hora está boa para pegar o avião. - Ricardo Riso noticia resenha de sua autoria sobre a poesia do autor cabo-verdiano Filinto Elísio. Leia mais e veja links...
Fontes: Caderno Prosa&Verso, jornal O Globo, Suplemento Ideias&Livros, Jornal do Brasil, e mailing pessoal da autora |
Forum das Letras de Ouro Preto e Forum das Letrinhas
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Todos os textos a seguir encontram-se reproduzidos na seção Blog do Letras - Saraiva Conteúdo, por gentileza de seu editor Ramon Mello.
Cheguei em Ouro Preto dia 29, debaixo de uma chuva fininha, numa noite bem fria em final de outubro.
A
programação começaria no dia seguinte e logo pela manhã do dia 30 fui
ao Teatro Casa da Ópera conferir a produção do teatro 'Valentina',
adaptação do livro infantil de Márcio Vassallo, programação do Forum das Letrinhas.
A
equipe da produção do Forum das Letrinhas, comandada por Adriana Mel
estava instalada num prédio anexo ao Teatro e recebia todos os
visitantes com sorrisos e água gelada Caxambu com a sugestiva tampinha
'Libertas Quae Sera Tamen'. E lembrei que, de certa forma, a literatura
é também uma forma de libertação.
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Mais um dia de história, cultura e, é claro, literatura.
No
terceiro dia do Forum de Ouro Preto, tirei a parte da manhã para
conhecer um pouco da história da cidade, visitar algumas igrejas, como
a de São Francisco de Assis, em cujo cemitério ao lado está sepultado o famoso pintor Alberto da Veiga Guignard, e algumas casas históricas, como a do poeta inconfidente Cláudio Manuel da Costa, adaptada para abrigar um charmoso restaurante, o Gastrô 58, próximo à Feira da Pedra Sabão.
À
tarde, fui conferir o Colóquio Olhares Sensíveis, direcionado para os
professores das escolas de Ouro Preto e Mariana. O colóquio, que
aconteceu no Salão Nobre da Escola de Minas,
abordava as formas de incentivo à literatura e trazia a discussão sobre
a inclusão das pessoas com deficiência. Alguns espectadores eram surdos
e somente puderam interagir diretamente com o palestrante por
intermédio da interpretação da tradutora de libras. O escritor Márcio
Vassallo também respondeu aos questionamentos dos educadores
especializados no ensino de crianças e adultos com deficiências visuais
e auditivas. Felizmente, editores presentes na plateia ficaram cientes
da importante demanda por uma educação especializada e inclusiva, e o
espectador Tininho, deficiente auditivo que suscitou a discussão, foi
convidado a começar a escrever sobre o seu universo, tão rico de
sentimentos, dores e paixões, material imprescindível para a
literatura.
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Não soube se o motivo era o domingo, ou a comemoração do dia de Todos os Santos.
A
questão é que acordei - aliás, todo mundo em Ouro Preto acordou - com
uma sinfonia de sinos, às 8 horas da manhã em ponto, com os sinos das
24 igrejas da cidade tocando ao mesmo tempo nos seus diversos timbres e
ritmos, sem parar, até que o sono desistisse de me puxar.
A chuva fina tinha desaparecido e a janela do hotel anunciava o dia mais movimentado do Forum.
Como
havia acordado bem cedo e a Programação Central iniciaria apenas às
14h30, tirei o dia ensolarado para conhecer a cidade de Mariana. Achar um bom guia turístico foi fundamental.
(...)
No entanto, a viagem do dia seguinte me avisava para pegar
leve: um caldo verde e muita cama. Apesar das ótimas mesas, em especial
as participações disputadas de Gonçalo Tavares e Mary del Priore,
sobre o prêmio Portugal Telecom e sobre as janelas para o 'real'
fornecidas pela biografia, respectivamente, eu me despediria de Ouro
Preto com o sol ainda alto, antes do cair da tarde, com lembranças mais
preciosas do que aquelas pedras vendidas na mão de mineradores à porta
dos restaurantes, e alguns livros a mais, que traziam uma certa leveza
e uma saudade sem fim na bagagem.
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O pirata enrustido - segunda parte
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Era só apertar um botão, que levava a outro site, e a outro
botão, sucessivamente, até ver uma barra de rolagem. O arquivo chegava
zipado, mas isso ele aprendera a fazer num treinamento de informática
fornecido pelo trabalho.
Winzip. Windows Media Player.
E
lá estava o show inteiro do Marvin Gaye louvando a Deus, 'Ain't no
mountain high'. Faltava a tradução, mas já sabia de cor o que a música
significava, e então de olhos fechados cantava solto, junto com o
Marvin, no inglês que saía. E isso era tão ele, esse atravessar das
montanhas da vida, essa subida dificultosa, quase intransponível.
No
dia seguinte, fingiu que não notou a estripulia da noite. Chegou no
trabalho abafando, contando do show raro e antigo para seus colegas de
mesma idade. A glória de ter o que todos queriam. O que não havia a
vender.
E o repouso do lar agora se destinava a varrer suas
próprias reminiscências empoeiradas, a reconquistar a juventude perdida
e ao saudosismo das músicas que tinham verso, que tinham conteúdo, que,
como ele, tinham história para contar.
Os vinis foram jogados
fora, eram os anos 90, a vitrola não tocava mais e já estava difícil
encontrar agulhas. Imprestáveis, os discos ficaram no chão da rua,
encostados no poste da calçada (não teve coragem de jogar no saco preto
do lixo), e o espaço foi preenchido por um novo tempo de cds e dvds,
por aqueles aparelhos prateadamente slim, mais e mais diminutos de
teclas eletrônicas e delicadas, que quase não ocupavam seu apartamento
de recém-casado.
Agora, quem queria saber de anos 80? Quem
queria ouvir o CD do New Kids on the Block e ensaiar suas coreografias
na sala? Ele se rodeava de novo dos seus antigos amores, Queen, Abba,
BeeGees, Donna Summer.
Rapidshare. Winzip. Winamp.
Uns
breves meses de pouca cama e muito download foram suficientes para que
se esgotassem os mananciais do passado. Foi conversando com seus novos
amigos, amantes da boa música e de shows inesquecíveis, que ele
descobriu vários lançamentos que sequer chegavam ao Brasil.
- Essas gravadoras...
O
show do Jamiroquai em Verona, o show beneficente para Montserrat, para
as pobres vítimas dos furacões, as músicas alternativas, o lounge, o
tango eletrônico do Gotan Project, porque nada disso se encontraria nas
lojas, e também nem se dava mais ao trabalho de procurar.
O
inglês agora era aprendido direto, sem cursos e professores, no site da
Amazon e no tradutor do googletranslator. A cota de download estourava,
a goela da banda não era larga o suficiente para chupar tudo.
Mas
ainda batia no peito, convicto. E buscava justificativas para comer a
hóstia. Seus atos eram todos legítimos, afinal, o preço era absurdo,
todos sabiam disso.
As gravadoras eram leoninas e sonegadoras,
os artistas não ganhavam nada, sobrevivendo da venda de ingressos em
shows. E, ainda por cima, como bem frisava, seu uso era doméstico,
não-comercial, no máximo umas cópias do rei Roberto Carlos para a
sogra, um soft jazz para o chefe, 'Hannah Montana' para usar na festa
da filha recém-nascida. Tudo grátis.
- Pecado é alimentar essa indústria do mal. Por que eles não baixam os preços?
No
seu afã - e mais novo hobby - de montar uma audio-mídia-dvd-teca
privada-particular que contivesse toda a produção fonográfica mundial,
urbi et orbi, desde Kraftwerk até A. R. Rahman, transferia toda a culpa
para os outros.
- Pirata é quem vende.
Ou, sua maior
pérola, desenvolvida depois de muita reflexão sobre os últimos anos em
que economizara uma pequena fortuna para montar a estante completa de
tudo:
- Acho muito válido ter acesso aos bens culturais
disponíveis à população mundial. Se o Paulo Coelho está distribuindo o
arquivo de seus livros e o John Mayer se divulga com vídeos gratuitos
no Youtube, eu dou valor.
O fato é que ainda não conseguia sair
do armário. Ou, aliás, do monitor. E retrucava violento, quando alguém
arriscava dizer que a farra um dia poderia acabar. Nem
que os policiais batessem em sua porta. Nem que lhe vasculhassem os
mp3's, avi's, ipods, pendrives, notebooks e celulares com toques
baixados. Polícia é para pedófilo, repetia, organizando no álbum de couro os papelotes de sua última compra '3 por 10 real'. O vício era uma mancha preta que se alastrava pela mão direita, a do mouse, até engolir o corpo todo naquela mácula.
- E Deus lá está preocupado com isso? Pecado é matar.
Baixava
filmes, músicas, livros, programas, jogos, monografias, tudo o que se
houvesse de baixar. E se não baixava, comprava, que dava menos
trabalho, chupava menos a banda, dava menos vírus e ainda tinha a
garantia de troca do dono da banca, que tinha cartão de visita e
máquina Visa.
Apesar de tanto, continuava enrustido, cada vez
mais desavergonhadamente enrustido, levantando bandeiras sobre a
abolição do direito autoral em mesa de bar, contando, com galhofa, de
quando comprou - depois de tantos anos e para dar de presente, claro -
o CD gospel com um adesivo vibrante estampado: 'Pirataria de cd é crime
e é pecado'.
- Pirata, eu? Pirata é o Jack Sparrow. Agora... tragam-me o horizonte.
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Uma semana de transformar, especialmente por dentro e um beijo,
Paula
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