Leituras da semana
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Queridos amigos,

Há dias em que atravessamos uma espécie de portal do tempo, ao ouvir uma conversa masculina ao telefone, com recomendações do século dezoito sobre o que uma mulher casada pode ou não pode fazer.

Há outros, em que estar num elevador com dois motoboys falando sobre o trânsito e o tempo parece um esquete de humor montado ao acaso, com o roteiro de alguma peça de teatro que perdemos.

Nesses poucos dias, quando acontecem coisas estranhas assim, fora de hora e de lugar, como uma discussão acalorada sobre sexo na mesa de um aniversário infantil, é preciso parar e prestar bastante atenção.

É a vida que nos presenteia com seu senso de humor.

Dicas da semana (12.09.2009 a 18.09.2009)
Lançamentos (off-Bienal)

- dia 14, segunda, a editora Confraria do Vento lança a edição impressa nº 1 de sua Revista Confraria, no CCBB-Rio, a partir das 18h. O convite vai abaixo. No mesmo dia, Gaston Stefani abre o "Portal das sombras: Histórias fantásticas", na Casa de Cultura Laura Alvim, às 19h.

- dia 15, Humberto Werneck lança "O pai dos burros", às 19h na Travessa de Ipanema, enquanto Adriane Salomão exibe "A sombra que me seguia", às 19h30 no Cinemathèque.

- dia 16, Andrea Portolomeos (...)

Lançamentos (na Bienal)
- dia 15, Katia Pino lança "Sou mulher" na Bienal, das 13h45 às 15h25, no stand da Oficina Editores (Pav. Verde, Rua Q, Stand 10), com talk-show.
- dia 16, Rosane Villela relança "Apanhando a lua", na Bienal do Rio, stand da Paulinas, às 10h. O belo livro já ganhou resenha na revista Ciência Hoje, online.
- sexta, dia 18, é dia de Luiz Ruffato lançar seu novo livro 'Estive em Lisboa e lembrei de você'.
 
Eventos

- domingo, dia 13, compre o bilhete e pegue a barca na Praça XV: tem Bate-papo em Paquetá. A edição de setembro traz Mello Menezes para falar sobre 'O desenho da música', com mediação de Henrique Meyer. Os próximos bate-papos acontecem em 11 de outubro, 8 de novembro e 13 de dezembro, com Elton Medeiros, Jorge Roberto Martins e Maurício Figueiredo, respectivamente. Local: Bar do Zarur: Rua r. Lacerda, 18, horário: 12 horas, fone: (21)339700656.

- segunda, dia 14, a editora Confraria do Vento convida para o coquetel de lançamento da 1ª edição impressa de sua Revista.
 


Novidades

- o amigo e poeta paraense Abílio Pacheco avisa que está nos últimos preparativos para o lançamento da Antologia Cidade na Feira Pan-Amazônica de 2009.

- um poema inédito, de minha autoria, 'Desejo de exílio', acaba de ser publicado online na Germina Literatura.

- o amigo maranhense, que escreve poesia na Ilha de Itaparica, Berredo de Menezes, encanta minha caixa postal com poemas saídos do forno. São delícias mornas, feito aquelas águas de Salvador. O poeta já tem livros publicados.

- o programa 'Rio, uma cidade de leitores', da MultiRio, fala sobre Clarice Lispector. (...)

- XVII Congresso Brasileiro de Poesia, no XVII Encontro Latino Americano de Casas de Poetas e no XIV Mostra Internacional de Poesia Visual, ocorre de 5 a 10 de outubro em Bento Gonçalves (RS). Uma tradição na cidade gaúcha, coordenado por Ademir Antônio Bacca, o congresso de poetas reúne milhares de pessoas de todo o Brasil e de países vizinhos.

- o Sarau Poético do Lunático Café, organizado pela bela Christiana Nóvoa, reuniu alguns dos novos e ótimos poetas do Rio de Janeiro, com Dado Amaral, Priscila Andrade, Rui Galanternick e outros poetas do ex-Boato. A grande revelação foi Marcos Chrispim, amante da poesia, que exibiu seu talento nato para a arte poética. Vale conferir a nota no blog Nóvoa em folha.

- Fabrício Carpinejar inova, mais uma vez: publica um livro de aforismos, com frases postadas no Twitter. A notícia saiu em destaque no jornal O Globo.
 
Nota de falecimento

- Morreu nesta madrugada, aos 90 anos, o escritor Antônio Olinto, no Rio de Janeiro. O velório está previsto para começar na manhã de hoje, na Academia Brasileira de Letras (ABL). Olinto estava em casa, em Copacabana, e teve falência múltipla dos órgãos. Segundo informou a ABL, o enterro está marcado para as 16 horas, no Mausoléu Acadêmico, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. O escritor era viúvo e não tinha filhos. Coincidentemente, Olinto morreu no mesmo dia em que tomou posse na ABL, 12 anos atrás. Ele ocupava a cadeira de número 8, e nela foi sucessor de Antonio Callado. Olinto era diplomata e nasceu em Ubá, Minas Gerais. Teve livros traduzidos para 19 idiomas. Fonte: site G1, Globo.com.
 
Cursos e Concursos

- o I Encontro Nacional de Poesias de São Fidélis, a 'Cidade Poema', acontecerá de 27 a 29 de novembro terá concurso com premiação. Contato: (22) 2758-6829  (Secretaria Municipal de Cultura). Mais informações no site da cidade de São Fidélis. 

- O Prêmio literário cidade de Porto Seguro, edição 2009, inscreve contos curtos. Regulamento no site Via Literária.

- o amigo paraibano WJ Solha é quem informa a oficina sobre "Como ler e escrever contos e romances", com o premiadíssimo escritor Esdras do Nascimento, autor de 'Variante Gotemburgo' e 'Lição da noite'. Mais informações sobre a oficina no telefone (21)22851682, no Rio.

Fontes: Caderno Prosa&Verso, jornal O Globo, Suplemento Ideias&Livros, Jornal do Brasil, e mailing pessoal da autora

A casa das chaves - última parte
 
 
Quando terminou de pregar o prego, de pendurar a chave, já era o início baço do dia que se levantava, enquanto uma igreja tocava o sino lá longe.

A menina quis fazer um chá, e fez questão de aquecer a água na chaleira e depois colocar aquela água fervendo no bule de metal com que tanto brincara.

E por um momento, a avó estava de novo com ela, sentada ali no canto da mesa, fazendo companhia, dobrando a ponta da toalha da mesa, escutando junto dela a manhã que se espreguiçava entre névoas e claridades, o alvoroço dos pássaros, o farfalhar das asas do anjo que se despedia e voava pela janela adentro.


E por um momento o avô estava de novo com ela, explicando que a magia que mora nas chaves é justamente a de fazer com que abram ideias na gente, é permitir que se veja aquilo que não é coisa de se ver.


Firme, ela olhava para tudo o que acontecia naquela manhã, tentando confirmar se estava vendo tudo aquilo de verdade. Mas soube por dentro que aquilo era mágica.


Afastou um pouco as cortinas e se debruçou naquela janela destrancada, para aproveitar por mais tempo o presente que seus avós lhe davam naquele dia, para prender aquele abraço tão igual aos tantos outros que já tinha ganhado, um abraço que trazia de volta, do infinito de dentro, todo o conforto que ela poderia encontrar.


Quando se despediu da avó, o coração estava refeito e respirava de novo, respirava a vida toda pela frente, respirava liberto todo o colorido do mundo de fora e assim a foi se deitar novamente.


Já estava dormindo, num sono suave e rosa como o de quase toda menina, quando falou bem baixo, como se dissesse um segredo para o seu anjo:


- Acho que a mágica da chave funciona, de verdade, anjo. Agora eu consigo ver um infinito por dentro.


E a casa de muitas portas e janelas, com o avô, a avó e o anjo, foi morar, pelo resto do tempo, no infinito por dentro da menina.


* * *
Destaques  da XIV Bienal do Livro no Rio


A XIV Bienal do Livro - Rio traz inovações importantes em sua programação

Com curadoria de João Alegria, Ítalo Moriconi, Sonia Biondo e Paulo José, a Bienal de 2009 mostra logo como pretende conquistar o público: o Café Literário ganhou mais espaço, o Espaço Mulher e Ponto foi criado em vista do crescente papel da mulher no meio literário, o projeto Livro em Cena, com curadoria de Paulo José, promete uma aliança mais fortalecida entre atores brasileiros e a literatura nacional. O Livro em Cena traz, entre outros atores, Paulo Betti, Marília Pêra e Giulia Gam.

Por fim, mas não menos importante, a Floresta de Livros traz um conceito inovador ao produto livro: o livro deixa de ser apenas um prazer tátil e visual, para se tornar um objeto de desejo e, sobretudo, uma fonte de deleites, com sensações auditivas e interativas. As árvores falam, suas copas formam palavras, há livros com tela de LCD touchscreen, e a Clareira traz lindas apresentações - tudo isso para a garotada, que corresponde à metade do público de toda a Bienal, se apaixonar cada vez mais pelo livro e pela leitura.

Programação
(...)

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Criptografando sentimentos


- Sandmann, Marcelo. Criptógrafo amador. Curitiba: Medusa, 2006.

A poesia é uma arte mágica, ocorre quando ninguém a está vendo, quando apenas alguns poucos podem senti-la no ar. Com a poesia podemos exibir ou ocultar, numa brincadeira de esconde-esconde em que poucos estão aptos a encontrá-la inteiramente.

Nesse espírito, Marcelo se apresenta como um amador dessa arte. Não digo aqui amador, como contraposto de profissional - pois que isso ele certamente o é. Amador enquanto pessoa que ama profundamente o que faz, e faz apenas por amor.

Em sua mágica, o poeta evidencia apenas aquilo que quer, enquanto a realidade se esconde dos nossos olhos. Em seus artifícios, vemos diversas referências poéticas e artísticas que se exibem apenas para quem seja iniciado na mesma arte.

O fato do espectador não estar treinado para 'ver' a mágica de Marcelo, não prejudica sua leitura, contudo.

Marcelo domina o vocabulário erudito e o informal, domina sonetos, versos metrificados, insere conceitos pós-modernos em formatos clássicos, aventura-se em aforismos, ready-mades, versos livres, experimenta os mais diversos truques de linguagem: um poeta que escreve em sedas, em grãos de areia, esgarça o tempo, dilata o espaço e incita ventos - ventos que não amansam: ventos que nos desalinham.

Só isso já é suficiente para notar que ele se revela, antes de mais nada, nesse prazer demorado, refinado e único que o distingue dos demais: é na prática de seu ofício que ele surge intenso, iridescente, assombrosamente escorpiano.

O melhor mágico não é aquele que precisa de muitos recursos para brilhar - é aquele que age na simplicidade, de mangas arregaçadas, mostrando a intimidade e a destreza das mãos naquilo que faz, sem perder jamais a elegância.

Com a orelha charmosa de Cristóvão Tezza, Sandmann criptografa sentimentos em sua segunda apresentação - seu livro de estreia foi 'Lírico renitente' - risca um fósforo na escuridão de cada dia, desperta a céu aberto, e iça um continente submerso por dentro de nós.

 
Entre esses raros dias, é bom aproveitar para se divertir com alguns substitutos baratos - ora, são baratos, sim! - como livros na Bienal.

O meu beijo,
semanal,
Paula