Leituras da semana
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Queridos amigos,




A poesia se esconde nesse vermelho doce e ácido que irrompe no jardim, prenúncio bom de primavera.

A delicadeza se esconde nessa fruta, catada no pé, brilhosa e suave, encontrada pela manhã tal como um presente caro.

E os prazeres mais simples se revelam nesse sorriso furtivo, malicioso, que se estende para além dos meus olhos, que desborda do meu jardim.

Mais tarde eu volto a procurar uma poesia, uma bem vermelha, tirada do galho mais alto e inatingível.

As pitangas mais doces, as poesias mais raras, são sempre as mais difíceis de colher.

Dicas da semana (05.09.2009 a 11.09.2009)
Lançamentos 

- quarta, Sérgio Chahon autografa "Os convidados para a ceia do senhor" junto com William de Souza Martins, assinando "Membros do corpo místico", na Livraria do Museu da República, às 18h30. Na Travessa de Ipanema, Mário Queiroz exibe "O herói desmascarado", a partir das 19h.

- quinta, Luiz Fernando Dannemann lança "Por uma noite - Um sonho nos bastidores da Broadway", às 19h na Argumento Leblon.

- para a última semana de setembro, já está marcado o lançamento de "Estive em Lisboa e lembrei de você", do amigo e escritor Luiz Ruffato. O evento acontece na livraria da Travessa, dia 22, a partir das 19h.

Eventos e cursos

- terça, dia 8, às 21h, atores interpretarão textos da coletânea "Clube da Leitura: Modo de Usar, vol. I", de autores do clube Baratos da Ribeiro, nas Casas Casadas, Laranjeiras.

- quarta-feira, dia 9, das 21h em diante, Christiana Nóvoa convida para o Sarau poético no Lunático Café e Cultura. Eu estarei lá falando poemas de 'Afrodite in verso' e outros inéditos. Junto comigo, estarão presentes os poetas Dado Amaral, Juca Filho, Pedro Rocha, Justo Dávila, Priscila Andrade e Cabelo. Até o convite é poesia:

Na Quarta, Nove do Nove/do ano Nove, às Nove/tem falatório poético/no cult-café Lunático!
Venha e traga uma poesia/de sua própria autoria/ou de quem você quiser/pra dizer a quem vier...
ou fique só escutando/as loucuras desse bando/de poetas-menestréis/enquanto come uns pastéis.
E veja que maravilha:/É grátis! Traga a família./Esperamos por vocês:/Viscon'de Carandaí, 6.

(...)

- dia 14 de setembro, segunda-feira que vem, a primeira edição impressa bimestral - a ser distribuída no Brasil e em Portugal - da revista Confraria será lançada em coquetel no CCBB-Rio, a partir das 18h. O convite está disponível neste link. O evento é gratuito e o espaço está sujeito à lotação. É bom chegar cedo.

- Luiz Raul Machado comanda a "Academia de Ginástica Poética: exercícios para a menina dos olhos" na Estação das Letras, a partir de 12 de setembro, sempre aos sábados, de 10h às 13h.

(...)

Novidades

- o amigo e poeta Zé Roberto Baletra gentilmente publica o poema "Ao fim do dia", de minha autoria, em seu blog, A Balestra.

- artigo de Thereza Christina Rocque da Motta, ensinando como voltou a ler e escrever depois da maternidade, no site Tabacaria.

- o querido mestre Luiz Ruffato avisa do lançamento do último número da revista Quimera, de Barcelona, que traz um dossiê sobre literatura brasileira.

- a escritora Ana Cristina Mello elabora a Primeira lista de nacionais mais vendidos, em seu blog Sobrecapa


Veja os links e leia mais...



 
Fontes: Caderno Prosa&Verso, jornal O Globo, Suplemento Ideias&Livros, Jornal do Brasil, e mailing pessoal da autora

A casa das chaves - parte 6
 
 
Devagarinho, a menina saiu da concha macia feito travesseiro, do fundo do mar da sua cama, e foi até o armário. Se ajoelhou para procurar lá embaixo de tudo a mochila gasta das viagens que não queria fazer mais.

Mas a mochila não estava lá.


Veio um frio na barriga.

A chave tinha de estar lá dentro, já que nunca antes havia precisado da sua mágica. Teria justo perdido a mochila? Teria emprestado para alguém, sem cuidar de receber de volta? Teria mandado lavar sem tirar a chave de dentro?


Sentiu uma falta de ar esganando o pescoço, uma friagem segurando o estômago, uma aflição que não virava grito nem gemido, um suspiro estacionado no peito.


Revirou a casa toda atrás da mochila e da chave, até que finalmente lembrou. Correu para procurar no alto do armário que ficava no quartinho da despensa e encontrou um tecido de lona todo dobradinho, atrás de tudo.


Desdobrou o tecido azulado, abriu o zíper da mochila e lá estava a chave mágica piscando em seus olhos, atada desde sempre com o fio de lã vermelha.


Segurou bem forte a chave na mão contra o peito e apertou os olhos com força, respirando fundo. Tinha encontrado a chave, mas a mágica não aconteceu assim do jeito que esperava, como coisa de filme e desenho.


Ela se desanimou um pouco, a chave não queria funcionar.


Que boba era ela acreditando naquela história que a avó contara quando ela era nova. Devia ser história de criança, ou história da carochinha, e ela imaginando que aquilo tudo pudesse ser verdade.


Desalentada, suspirosa, foi se deitar, mas não dormiu. Naquela hora, só estava triste.


- Vai ver a mágica da chave tem um jeito especial de funcionar. Por que você não pendura ela lá em cima da sua porta, nesse fiapo de lã vermelha? - sussurrou o anjo que estava deitado de lado, no mesmo travesseiro.


Ela, que estava quase dormindo, se levantou de novo agarrada com esse pensamento. Foi de pijama até os fundos da casa para pegar a escadinha pequena, depois remexeu na caixa de madeira que guardava os pregos, e enquanto fazia isso ela sentiu um conforto bom, uma animação leve, uma proximidade, e quase podia ver o avô em suas mãos habilidosas revirando as ferragens, quase podia ver em seus passos de chinelo de pano a avó trazendo a escadinha e se esticando para mexer no enfeite que ficava acima do portal.


Quando terminou de pregar o prego, de pendurar a chave, já era o início baço do dia que se levantava, enquanto uma igreja tocava o sino lá longe.

 
O pássaro raro pousou no meu ombro


- Gaarder, Jostein. O pássaro raro: contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. (disponível no site Scribd)

O homem passa a vida mascarando o real, enfeitando a verdade para que ela não pareça tão improvável. Mas o real e a verdade às vezes dão as mãos e misteriosamente escapam dessa gaiola dourada onde vivem trancados. E alçando voo, impõem sua presença, a despeito de nosso alheamento.

Jostein Gaarder é o autor de "O mundo de Sofia" e tantos outros títulos, todos publicados pela Companhia das Letras. Em "O pássaro raro", o filósofo alemão traduz em contos nossa - infundada - perplexidade com o óbvio, esse óbvio que aprendemos a disfarçar tão bem. Ele narra essa perplexidade que se torna epifânica, porque sistematicamente esquecida por nós desde a infância.

Como o autor conta, "O pássaro raro" se exibe em breves momentos, traz constatações perturbadoras e formula perguntas que imobilizam e levam ao impasse essencial: a dúvida eterna sobre o que somos e o que fazemos perambulando a esmo numa esfera em suspenso no espaço (in)finito.

(...)

Sarau poético, dia 9.9.09, às 9 da noite

Um beijo com cor
de pitanga madura,
Paula