Leituras da semana
www.paulacajaty.com
cabeçalho
Queridos amigos,

Já se aproxima o dia em que celebramos aquele patriotismo canarinho que só aparece no dia 7, a cada setembro, e nas copas do mundo. No entanto, para além de todas as críticas e a raiva que por vezes faz o povo desanimar, não há nada mais importante que o nosso lugar, esse espaço onde moramos, e que também mora dentro da gente.

Todo mundo sabe que na mesma cidade podem morar milhares, milhões de pessoas. Mas o que pouca gente lembra é que ela nunca é a mesma, a cidade é sempre única para cada um que se apaixone por suas esquinas e curvas, por seu cheiro e suas sombras.

E o mais engraçado é que ninguém precisa sair da cidade para sentir saudades dela. Às vezes a gente sente saudade da cidade que existia, mas que foi mudando ao longo do tempo. A cidade, feito um namorado ou uma namorada de antigamente, que muda por fora, mas vive para sempre impressa na memória.

De vez em quando, eu ainda posso ver as ruas largas, de fuscas coloridos, pumas e passats, ainda escuto ao longe o assobio do amolador de facas e, quando durmo à tarde, penso ouvir o moço das pamonhas, ou o eco do vassoureiro.

Nada mais disso existe, porém. A cidade mudou - eu também mudei. E isso tudo apenas permanece real, enquanto eu mesma não deixar de existir.


Dicas da semana (31.08.2009 a 05.09.2009)
Lançamentos 

(...)

- terça, 1º de setembro, Cyana Leahy assina seus Livros de prosa e poesia, às 17h, na livraria Arlequim, no Paço Imperial. Também na terça, o poeta Eduardo Tornagui lança "Matéria de rascunho", na livraria Letras e Expressões do Leblon, a partir das 20h.

- quarta, 2, William Bonner , cujo nome no Twitter é @realwbonner, autografa "Jornal Nacional - Modo de fazer", às 21h, na Argumento do Leblon.

- quinta, 3, José Eduardo Agualusa mostra "A conjura", às 19h, na Travessa de Ipanema, num bate-papo com Maitê Proença.

- sexta, dia 4, Celi Luz lança "O sol da palavra", pela IbisLibris, às 19h na Travessa do Barrashopping.

- sábado, dia 5, está previsto o lançamento de Boaventura Cardoso (edição de "Mãe Materno Mar" e mais três livros sobre sua obra), conforme email enviado pela Profa. Dra. Carmen Lúcia Tindó Secco. O lançamento será no Espaço Cultural do Consulado de Angola, das 14h às 16h (Av. Presidente Wilson, 113, loja A).

Eventos, cursos, etc.

- Oficina de Poesia, em setembro, no Lunático Café e Cultura, com Christina Nóvoa. No dia da abertura, 9 de setembro, a noite continua com Sarau de Poesia depois da aula.

- terça e quarta-feira, na Casa da Gávea, no sobrado da Praça Santos Dumont, 116, acontece "A arte e as exceções: o portunhol selvagem e outras propostas contemporâneas". Vários nomes confirmados, entre eles o nosso representante do portunhol selvagem, Douglas Diegues. Entrada gratuita.

- nesta quinta, dia 3, Silvia Morgensztern fará palestra sobre o novo livro "O inesquecível banquete dos deuses", às 19h no Instituto Cultural Freud (Aníbal de Mendonça, 175).

- A Fundação Oscar Araripe entra para o projeto Música no Museu, da Light, exibindo seus Concertos de Inverno para setembro de 2009. O artista plástico Oscar Araripe é quem desenha a capa da programação, com sua obra "Flores em Sol Maior" (...)

- Marcelo Moraes Caetano já mostra sua Gramática Reflexiva no site da Editora. De resto, também ingressou no conselho editorial da Lítero Editorial, selo luso-brasileiro.
 
(...)

- Programa legal no Largo das Letras: Às 19h do dia 3, serão inauguradas as exposições de Poesia Visual e do álbum Palavraria Pública, ambos de Tchello d'Barros e, após, Luiz Fernando Prôa coordena o Sarau Alma de Poeta (...)

(...)

Outras novidades

- O CCBB-Rio, o belo prédio na Candelária, fecha suas portas para manutenção. A previsão das obras é de um ano.

- hotsite do novo livro de Dan Brown, "Símbolo perdido". Será que ele se recupera do fiasco com "Anjos e demônios"?

- no Ideias&Livros dessa semana, entrevista inteira com Fabrício Corsaletti, o menino dos olhos da poesia gaúcha, fala sobre sua novela "Golpe de ar".

 
Fontes: Caderno Prosa&Verso, jornal O Globo, Suplemento Ideias&Livros, Jornal do Brasil, e mailing pessoal da autora

A casa das chaves - parte 5
 
 
E a beijou na testa, estalando um 'boa viagem, querida'.

A menina crescida foi olhar tudo o que é canto do mundo, foi morar nas tardes mais furta-cores, foi acordar no marulho das águas, foi cantar com as copas das árvores, foi dormir em montanhas rodeadas de ventanias.

A menina foi ser feliz.


De quando em quando batia uma saudade nela que engolia tudo e toda a vontade de continuar descobrindo belezas morria ao lembrar a  distância daquela que era a sua casa de verdade. Quando isso acontecia, ela tratava de fazer a mochila de novo e partia desabalada de volta, num desabalo todo bom, doida para encontrar avô e avó.


Até que chegou um dia em que a menina cresceu tanto, que o tempo passou tanto que, ao voltar, ela não encontrou mais a casa, e nem os avós moravam mais lá.


A menina se sentiu mais pesada que a âncora de um navio, afundando na água sem conseguir respirar. E ficou lá no fundo do mar, marejada, funda, feito uma concha, por alguns muitos e muitos dias.


Mas o tempo, aquele danado do tempo, foi passando de manso, e a menina guardada em sua concha escutou alguém falar baixinho com ela,  alguém de quem ela conhecia a voz de canduras, a voz de delícias, um tom quase angelical.


- Oi, menina, você vai ficar aí para sempre?

- Eu vou. - disse ela resoluta.
- Mas perdeu a vontade de brincar com aquele infinito lá fora que te chamava tanto?
- É, perdi.
- E por que perdeu?

A menina revirou os olhos, deu de ombros, se segurando para não desmanchar em água salgada.


- Por que nesse infinito não tem justo o que eu quero mais ver. E de mais a mais, ele acabou perdendo a cor para mim.

- Ora, mas então isso que você quer tanto ver deve ter pulado para o outro infinito, o de dentro. Aquele que fica guardado por trás dos olhos, por trás das janelas de fechadura. A chave dele ainda está com você, não está? Ou será que você jogou fora só porque ela era pesada demais e não servia para tanta coisa?
- Peraí. Quem é você? Como você sabe tudo isso? Aliás, eu te conheço?

O anjo balançou a cabeça, fazendo que sim.


- Eu conversava com você antes de dormir e tomava do seu chá de mentirinha e andava de mão dada com você, até que eu fui ficando transparente, transparente, transparente, fui desaparecendo e você não me via mais, não me notava mais do seu lado, e só rezava para mim antes de dormir. - disse o anjo com uma pedrinha de brilhante aparecendo no canto do olho (porque anjos choram pedrinhas de brilhantes) - É, isso você nunca esqueceu de fazer...


A menina então ficou quieta, respirando lembranças, remoendo aquilo tudo, aquilo tudo que foi a vida dela que ela nem se lembrava direito, porque o tempo e o infinito do mundo de fora tinham apagado um pouco de tudo aquilo da memória.


Devagarinho, a menina saiu da concha macia feito travesseiro, do fundo do mar da sua cama, e foi até o armário. Se ajoelhou para procurar lá embaixo de tudo a mochila gasta das viagens que não queria fazer mais.


Mas a mochila não estava lá.

 
A glória de O lutador



- O lutador (The wrestler). EUA, 2008.

A realidade da luta-livre, a decadência dos profissionais que vivem do corpo, tudo isso faz de "O Lutador", antes de tudo, um filme verdadeiro e, por isso mesmo, arrebatador. Apesar de não ter sido premiado pela Academia, além das duas indicações para melhor ator e melhor atriz coadjuvante, o filme recebeu inúmeras e merecidas premiações do circuito alternativo, como 2 Globos de Ouro (para melhor ator e melhor canção), o BAFTA (para melhor ator), e o concorrido Leão de Ouro no Festival de Veneza.

Mais impressionante que a atuação de Mickey Rourke, que perdeu o Oscar de 2009 para Sean Penn (Milk), ou de Marisa Tomei, também esplêndida como a stripper Cassidy, é o roteiro preciso do filme, que não pretende glamurizar a figura dos tradicionais 'losers' norte-americanos e nem aborda superações dos personagens. Trata-se da vida como ela é, sem saídas fáceis.

(...)

Um beijo,
sobrevoando verde e amarelo
por toda a cidade.
Paula