Leituras da semana
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Queridos amigos,
Nesses dias de inverno, parece que a cama sussurra encantos numa voz doce, irresistível. E o nariz, a garganta e o ouvido se unem, arranhando, coçando, pingando, numa espécie de complô com o cobertor, eles todos desaconselhando o arriscar-se na chuva peneirada da rua.
Normalmente eu ignoro essas tentativas da fantasia me tomar de vez. Até onde sei, eu sou normal.
No entanto, mais recentemente, eu que já me considerava alguém que caminha no limiar da razão, decidi ficar em casa de vez depois que lavei duas vezes as mãos no shopping: a primeira, antes de pegar na maçaneta da porta do banheiro público, e a segunda, logo depois disso, feito gente que não bate bem e faz as coisas em duplos, tendo o cuidado de usar o papel toalha para não encostar nas superfícies.
Só faltava querer lavar a mão com água fervendo e levar o sabonete na bolsa.
Aliás, já pensei fixamente em usar luvas de couro, junto com o casaco no mesmo tom, disfarçando com um aspecto parisiense o pânico que avança em mim.
Felizmente desisti.
Não só porque seria deixar a falta de razão assumir o comando, ou pelo ridículo de ter que explicar aos olhos curiosos dos colegas, mas ao me imaginar na fila, misturada com um monte de gente falando, tossindo e espirrando, espargindo vírus letais e invisíveis por todo lado.
Até onde sei, eu sou normal. Mas, por via das dúvidas, enquanto faz frio e a gripe passeia livre mundo afora, prefiro escutar os sussurros da cama e me tranco em casa, na companhia mais segura dos livros.
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Dicas da semana (25.07.2009 a 31.07.2009) |
Lançamentos 
- terça, 28, o terror toma conta da literatura: Márcio Trigo organiza seus "Dez contos de terror" preferidos, às 19h no bar Desacato. Eduardo Stein Maroniene mostra a "Cabala da autossuficiência", às 19h na Saraiva Rio Sul.
- Ainda na terça, o sebo Baratos da Ribeiro faz a festa de lançamento do "Clube da leitura: modo de usar - vol. I", com 24 contos escritos pelos integrantes do clube.
- quarta, 29, Haroldo Costa lança "Catullo da Paixão, vida e obra", às 19h na livraria Museu da República, enquanto Cláudio Murilo Leal entra na onda de Enrique Vila-Matas, e escreve seus "13 bilhetes suicidas", com lançamento no PEN Clube.
- quinta, 30, Ruth Judice convida para "Um passeio pela história da Poesia", a partir das 19h na Travessa do Shopping Leblon.
Eventos e cursos
- Carlos Nejar dá curso na Estação das Letras, entre 3 e 24 de agosto.
- Mary del Priore faz palestra na ABL, terça, dia 28, a partir das 17h30, com o tema "Cafés, livrarias e cocotes - modismos e outras influências parisienses nos costumes brasileiros".
- quinta, dia 30 de julho, Marcelo Moraes Caetano substitui a escritora Isaura Theodoro na solenidade de entrega da Comenda Medaille de Bronze au Titre Étrange, da instituição francesa Académique des Arts, Sciences et Lettres de France. (...)
- sábado, dia 1º, na Casa Poema, a partir das 15h, tem Poesia do Encontro com Elisa Lucinda e Martha Medeiros, com leituras e sessão de autógrafos. Como o evento é gratuito (aliás, pede um livro de poesias como entrada), é bom chegar cedo! (...)
- dia 8 de agosto, o amigo e ilustrador Danilo Marques chama para o I Encontro de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil de São Paulo, organizado pela AEILIJ-SP acontece na Livraria Cortez (SP), das 10h às 18h, com feira de livros, palestras; bate-papo; oficinas de Modelagem e outras exposições (...)
Outras novidades
- "Marco Polo e a princesa azul", de Thereza Christina Rocque da Motta, ganhou resenha de Fernando Py, na Tribuna de Petrópolis. Thereza continua com suas excelentes traduções, todas online no seu bonito blog.
Fontes: caderno Prosa&Verso, O Globo, suplemento Ideias&Livros, Jornal do Brasil, e mailing pessoal da autora.
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A casa das chaves - parte 3 |
A menina pegou no ar um olhar vidrado num ponto distante, fez que sim com a cabeça, foi brincar com o jogo de chá e não voltou a falar novamente das chaves mágicas.
Ficou mastigando em silêncio aquela história de janelas, de segredos, de infinitos que transbordam, de coisas que ela precisaria encontrar enquanto conversava com seu anjo e arrumava os bules de metal prateado.
- Ora, mas que janela mágica é essa que eu vou precisar abrir com uma chave de ferro para olhar o infinito de dentro? E o que é que eu vou precisar encontrar que não se vê a olho nu?
O anjo respondia em delícias, devagarinho numa voz angelical:
- Menina bonita, talvez você não precise dessas chaves agora. Talvez a sua janela mágica ainda não tenha fechadura. Mas você vai crescer, menina...
- Ué, mas quem vai botar uma fechadura nessa minha janela de dentro? - ela pensou de volta para o anjo.
O anjo respondeu cheio de talvezes.
- Talvez o tempo, ou talvez você mesma acabe colocando um dia, ou quem sabe no passar dos dias, sem reparar. Muita gente põe fechadura em si mesmo e esquece de guardar essas chaves mágicas num lugar bem à vista, e depois nunca mais consegue se debruçar para contemplar o infinito que guarda por dentro. E daí o infinito de fora perde as cores.
- Isso parece ser bastante triste.
- E é mesmo...
- Quer um chazinho, anjo?
E a menina continuou brincando com o jogo de chá da avó que ficava na mesa baixa da sala, uma mesa que parecia feita justo para ela brincar.
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O museu nosso de cada dia |
- Borges, Roberto Pio. Museu imaginário. São Paulo: Musa Editora, 2007.
Onde está o romanesco, onde o desconhecido? Onde se esconde essa fronteira do imaginário que se desdobra por dentro e faz enxergar até o "futuro nas nuvens" e que ressurge nítida feito verdade, ou embaçada como um sono forte, à medida em que a vida passa?
Roberto Pio Borges oferece sua novela, o primeiro livro no qual explora essa linha tênue e esfumaçada que nos separa da vida real. Seu "Museu Imaginário" mostra a eterna luta entre o homem e a besta, como diria Xavier de Maistre, em sua clássica "Viagem ao redor de meu quarto".
Não acredito, como Xavier, que se trate de uma besta essa que nós guardamos por dentro, e que nos incita ao inimaginável, e que nos torna particularmente indomáveis. Assim como Philippe, o protagonista de Roberto, trata-se de um ímpeto, talvez uma sombra irrequieta, uma angústia que toma corpo, ou mesmo um escorregão para dentro de um mundo invisível, particular, um jardim secreto só dele.
(...)
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Um beijo a todos
só no pensamento,
sem encostar. Paula
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