Leituras da semana
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Queridos amigos,
Há dias em que a alma escapa pelos dedos.
Em dias assim, seja por uma felicidade muito grande, uma aflição, um susto forte ou mesmo isso tudo junto, ela se projeta para fora dos contornos físicos, num movimento em direção ao imponderável.
Quando a alma retorna para dentro, fica algo como uma vertigem, um alheamento, uma falta de peso a tirar a força das pernas e o rumo de costume.
A última sexta-feira foi um dia bem assim. Não só porque a enseada da Baía estivesse especialmente brilhosa, não apenas porque o horizonte estivesse vestido de um turquesa límpido que só maio saberia talhar, mas simplesmente porque foi um dia desses, quando a gente se abre com alguém muito querido no meio da tarde, e essa tarde esquece do tempo, suspende o barulho de tudo aquilo que nos desvia da voz essencial dos nossos desejos, daquele canto único que ressoa por dentro.
Ontem foi o dia do amigo e eu não mandei correntes, não escrevi nem mandei uma mensagem padronizada ou dirigida a todos. Eu amo todos e a cada um de forma única, diferente em modo e com intensidade particular. Não há mesmo como gostar igual das pessoas, sempre tão raras e desiguais.
Escolhi pensar em cada uma delas - em cada um de vocês - esses tantos que me sustentam, ouvem meus olhares, dialogam com meus silêncios. Escolhi pedir proteção e eternidade àqueles que me fazem lembrar do que realmente importa e ajudam minha alma a escapar, a atravessar meus limites.
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Dicas da semana (18.07.2009 a 24.07.2009) |
Lançamentos  - terça, Luiz Edmundo de Andrade e Ernani D'Almeida mostram "A França do Brasil", às 19h30 na Argumento do Leblon. - quarta, Cláudia Lage lança seu novo livro, "Mundos de Eufrásia", a partir das 19h na Argumento. - Andrey do Amaral, de Brasília, divulga seu novo livro "Mercado editorial - Guia para autores", editado pela Ciência Moderna. Vale conferir o site do autor. Eventos, cursos, etc. - na segunda, a partir das 21h, tem Ponte de Versos na livraria DaConde, com homenagem a Vinícius de Morais, com apresentações de Tanussi Cardoso, Pedro Lago e Tavinho Paes, entre outros. - próximo sábado, 25, às 10h30, tem troca de livros da Estação das Letras, com a presença de Francisco Orban e Astrid Cabral. - No POP, em agosto, Thalita Rebouças conta como virou best-seller infanto-juvenil no curso "Literatura juvenil e mercado editorial". Na PUC-Rio, também se encontram abertas as inscrições para a pós-graduação 'A produção do livro: do autor ao leitor', que inicia em agosto. - O Crânio faz a chamada oficial para os cursos de agosto, entre eles "Fernando Pessoa e a metafísica das sensações" (veja no blog do Crânio), que inicia em 06 de agosto e segue todas as quintas à noite até o final do mês. - Na ABL, "A França volta ao Petit Trianon", com oito pensadores franceses, como Didier Lamaison, Emmanuel Renault, Roger Chartier, entre outros. As conferências são abertas ao público, nos dias 20 a 23 de julho, e contarão com tradução simultânea. - Terça-feira começa o workshop de Poesia Falada, na Casa Poema, da Elisa Lucinda. O Lunático chama para seu projeto "Arte nas férias", e é bom correr, que elas já estão quase terminando... - É também no dia 23, sexta-feira, que Denise Emmer recebe a premiação da ABL por seu livro de poesia "Lampadário". Felizmente, a Denise tem um blog poético, onde podemos ler uma pequena mostra de seu belo trabalho. Outras novidades- Já está online a nova edição da Revista Aliás, com crônica da Autora sobre o "Passeio Público" no Rio de Janeiro. A revista cultural e virtual Diversos Afins comemora o seu 3º ano com ótimos textos de André de Leones e de Lúcia Bettencourt, entre outros. - Também já está postada no site da Agência Riff a entrevista com Janaína Michalski, a autora do livro infantil "Onde o sol não alcança" recém lançado no Salão FNLIJ. - Vale conferir, no Ideias, a resenha de Pedro Lyra sobre o mais recente lançamento da editora Ibis Libris, "154 sonetos", de Shakespeare, todos traduzidos por Thereza Christina Rocque da Motta. - A Fundação Oscar Araripe convida para exposição "Ofélia Torres pinta a cidade de Tiradentes", com vernissage no sábado, dia 1º de agosto, a partir das 17h, e exposição do dia 2 de agosto até 1º de setembro de 2009, na Galeria da Fundação. Leia mais e acesse os links...Fontes: Caderno Prosa&Verso, O Globo, Suplemento Ideias&Livros, do Jornal do Brasil e mailing pessoal da autora. |
A casa das chaves - parte 2
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 Foi quando a menina viu piscarem nos seus olhos duas chaves de ferro, penduradas em cima da porta de entrada da casa por um fio de lã vermelha e ponteira de cortina, as duas chaves mais bonitas que ela já tinha visto em toda a sua vida que acabava de completar o oitavo ano.
- Avó, por que aquelas chaves estão penduradas em cima da porta? - perguntou, de sombrancelha franzida. - Porque aquelas chaves não são de abrir porta - respondeu a avó com a sua voz de seda. - Ué, então elas são de abrir o quê? - Elas são de abrir janelas, minha querida. - Mas janela não tem fechadura... - Você está ficando muito espertinha, mas é muito tarde agora para essa história comprida. Amanhã eu te conto para que servem aquelas chaves, está bem? - sugeriu a avó, cheia de doçuras.
De mão dada com o anjo, a menina perguntadeira foi para o quarto e quando os dois deitaram na cama, ela ainda pensou cinco segundos com ele para que serviriam as tais chaves penduradas tão alto, antes de desabar num sono todo suave e rosa, de menina.
No dia seguinte, tomando café-da-manhã, a menina lembrou de repente da história da chave e perguntou antes de terminar o segundo biscoito de nata:
- Avó, você me conta a história daquela chave hoje? - Essa história é bem bonita e é de verdade, minha querida.
A avó contou então para a menina, enquanto a arrumava e trançava seus cabelos, que chaves de verdade servem para abrir portas de verdade, e que elas são importantes porque cada porta sempre guarda um caminho, um segredo, uma surpresa.
Depois contou que aquelas chaves que ficavam penduradas em cima da porta não eram chaves de verdade, comuns como as outras, não serviam para entrar em lugares e caminhos. Aquelas chaves diferentes e bonitas eram chaves mágicas, de abrir janelas. Janelas que se abrem para infinitos. Janelas por onde os infinitos nos espiam.
É claro que janelas não tinham fechaduras, janelas de verdade só têm trincos, explicava a avó, acontece que as tais chaves mágicas só funcionavam em janelas mágicas também.
- Como assim? - a menina tinha acabado de entrar na idade dos como-assins. - Ora, as suas janelas mágicas são as janelas que separam você do infinito lá de dentro. Por isso, essas janelas precisam de fechaduras e chaves, para ficarem bem trancadas ou bem abertas, de acordo com o que você mais deseja, sem o que os infinitos, o de fora e o de dentro, transbordariam um no outro, misturando tudo, entendeu? Com essas chaves, menina, você abre as janelas para tudo o que você precisar encontrar, e que não está visível a olho nu.
A menina pegou no ar um olhar vidrado num ponto distante, fez que sim com a cabeça, foi brincar com o jogo de chá e não voltou a falar novamente das chaves mágicas.
(a continuar...)
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O enigma vazio: decifro-te ou devora-me |
- Sant'Anna, Affonso Romano de. O enigma vazio: impasses da arte e da crítica. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
Sujeito inteligente desata tudo que é nó - parafraseando Guimarães Rosa, citado no livro.
Vivemos num mundo de imagens, símbolos, cores, nessa sociedade de espetáculos sensoriais. Nesse contexto, as artes plásticas originalmente surgiram com uma finalidade estética, por vezes até religiosa, exclusivamente para o deleite do sentido da visão. Em certo momento, porém, a busca do prazer, do epifânico, do satori imagético, cedeu espaço para outras agendas, outros discursos, para mensagens cada vez mais restritas e elaboradas, numa espiral descendente, até atingir, paradoxalmente, o nada.
Affonso Romano ingressa nesse ponto da linha do tempo, empreende uma espécie de busca ao elo perdido e erige sua trilogia - sim, nós também temos trilogias - investigando a partir de qual ponto o mundo se perdeu, senão como um todo, ao menos nas artes plásticas.
A caminhada tripartida se inicia em "Desconstruir Duchamp", de 2003, quando o Autor estuda o pivô da mudança de paradigmas, com textos leves e divertidos sobre artes e artistas de muito marketing pessoal e pouco conteúdo. Em seguida, segue seu caminho em "A cegueira e o saber", de 2006, livro em que se busca demonstrar, por meio de crônicas, a abertura e a recepção acrítica das auto-intituladas 'obras de arte' - ou seja, como e porque as artes pós-contemporâneas são digeridas pelo público. Por fim, o Autor finaliza seu conteúdo com "O enigma vazio", no qual ele expõe, ensaisticamente, as chagas do nouveau régime e empreende a metacrítica, a crítica dos críticos que legitimaram e legitimam a arte rarefeita da pós-contemporaneidade.
Nessa cruzada, um ensaio que poderia ser lido como livre-docência, Affonso cria teses, disseca, analisa, conceitua, traz dados inter-sociais de outras culturas, como, p.ex., a italiana, e descobre que não está sozinho, não só entre os leigos das artes plásticas, mas sobretudo no cerne do meio artístico. (...)
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Aos meus amigos, aos meus amores, o meu beijo sempre único, Paula
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