Leituras da semana
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Queridos amigos,

Soube do falecimento de um querido amigo, o Rodrigo de Souza Leão, quando assistia à única palestra sobre poesia da FLIP. O mediador, o professor Carlito Azevedo, prestou sua homenagem comunicando para o público o falecimento desse poeta, um precioso amigo meu, ocorrido subitamente na véspera, dia 3 de julho.

Impossível contar em palavras da tontura, do estupor de quem não sabe o que fazer. O ar se recusava a entrar no peito. Algum tempo depois, vim a saber que o motivo foi infarto, no coração daquele menino de 43 anos.

Rodrigo era um amigo dócil e sensível, um poeta carinhoso e que sabia trazer a palavra sempre alegre aos escritores de seu convívio, mapeando, no seu sacerdócio particular, toda a poesia brasileira, através das entrevistas que fazia para as revistas virtuais Germina e a Zunái.

Ainda não me recobrei de todo, nem da inflamação de garganta que peguei depois da notícia, nem da tristeza e do vazio que senti nessa última sexta-feira, dia em que conversávamos por telefone com mais demora, nessas conversas sem rumo que caminham para onde dá vontade.

Mais dolorido ainda, foi olhar sua última postagem, ainda esperançosa, alvissareira, cheia do viço daquele homem que mantinha a ternura dos vinte anos.

Rodrigo era um companheiro de verdade, amigo desinteressado e fiel como não se encontram mais, e eu realmente não tenho com quem compartilhar a perda, senão com alguns leitores e outros poucos amigos com quem falo pela internet.

Deixo um abraço longo e silencioso - abraço de quem não pode sequer abraçar ninguém, fazer ou dizer mais nada - pois que dele não conhecia nada mesmo, além da sua alma.


Dicas da semana (14.07.2009 a 18.07.2009)
Lançamentos

- quarta, dia 15, tem "Para sempre teu, Caio F.", da jornalista Paula Dip, na livraria Argumento;

- sexta, 17 de julho, tem "Mulheres, prazeres e poesias", de Hilzia Elaine Andrade, às 19h, na Travessa do Barrashopping, e

- dia 20, é a vez de "Romário", biografia autorizada do craque, lançada pelo jornalista Marcus Vinícius.                                                                               

 
Cursos

- A partir do dia 20, na Estação das Letras, estão abertas as oficinas de produção textual "Mergulho na escrita", com a especialista em Literatura Brasileira Silvia Carvão. Para complementar, um curso especialíssimo com Suzana Vargas, sobre estudo e criação de textos separada por gêneros literários.

- Também na Estação das Letras, a segunda edição do curso "A arte da poesia", desta vez trazendo Antonio Carlos Secchin (dia 15) e Marco Lucchesi (dia 17), das 18h30 às 20h30, além de um curso mais voltado para o mercado, "O escritor e o Mercado Editorial", concedido por Maria Amélia Mello, editora da José Olympio (Record), no dia 18, das 10h às 14h.

- Na Casa Poema, tem Workshop de Poesia Falada com Elisa Lucinda, dos dias 21 a 29 de julho.

(...)

Eventos, novidades, etc.

- para quem gosta de jazz, o Telezoom promove a palestra "Lady sings the blues", com Roberto Muggiati, sobre a vida e a obra de Billie Holiday, na quinta, dia 16, a partir das 20h.

- a turma da poesia já está a par do falecimento do poeta Rodrigo de Souza Leão. Em homenagem a ele, o site Cronópios pôs um vídeo no ar: In memoriam, Casa das Rosas.

- Marcelo Moraes Caetano envia link para um conto publicado em Portugal e conta que agora também edita o site e a revista RAFROM-Núcleo de estudo e treinamento em linguagem e tecnologia (...)

- Três poetas e dramaturgos acabam de entrar no site de tradução de Thereza Christina, a editora da Ibis Libris.

- Carlos Roberto de Souza dá a notícia da nova Revista Fanzine Episódio Cultural, no site Portal de Machado.

- Entrevistas com Elaine Pauvolid, no site O Literático,  e no programa Perfil Literário, de Oscar Ambrósio.

- No Youtube, um vídeo curtinho da TV Cultura de São Paulo, contendo uma entrevista feita por Manuel da Costa Pinto com Flávio Carneiro e com Luis Fernando Verissimo, sobre futebol e literatura, no Festival da Mantiqueira.


Leia mais e acesse os links...

Fontes: Caderno Prosa&Verso, O Globo, Suplemento Ideias&Livros, do Jornal do Brasil e mailing pessoal da autora.
A casa das chaves - parte 1

A menina morava numa casa de muitas portas e janelas, com o avô, a avó e o anjo.

No dia do seu aniversário de oito anos, o avô abriu o armário estranho que tinha uma única porta, que ficava nos fundos da casa, pegou uma caixa de madeira entalhada e pediu que a menina o ajudasse a encontrar a chave daquela porta da sala que nunca era aberta.

- Presta atenção - ele dizia - essa chave tem uma marca vermelha de esmalte bem na ponta - e revirava as chaves de um lado para o outro.

Era difícil achar a chave certa.

A menina olhava para aquele mar de madeira carregado de chaves antigas de todos os jeitos e tamanhos, e dava vontade de perguntar um monte de coisa para o avô.

- Por que tem tanta chave? Por que elas ficam nessa caixa, todas guardadas juntas? Por que elas não ficam penduradas nas maçanetas? Por quê? Por quê?

A menina estava na idade dos porquês, e o avô ia respondendo tudo naquela sua calma de avô.

À noitinha, depois de encontrarem a chave da porta que vivia fechada, depois da festa, dos presentes e do bolo, depois de tudo, a menina se esparramou no sofá gigante e macio da sala da avó, enquanto ela ainda levava os pratinhos para a cozinha, guardava os fitilhos coloridos e dobrava os papéis de presente.

Foi quando a menina viu piscarem nos seus olhos duas chaves de ferro, penduradas em cima da porta de entrada da casa por um fio de lã vermelha e ponteira de cortina, as duas chaves mais bonitas que ela já tinha visto em toda a sua vida que acabava de completar o oitavo ano.

(a continuar...)
Quase como se pudesse voar


pudesse, desaprenderia
as coisas mais caras
as coisas várias
inúmeras essenciais
que empalidecem o verbo.

pudesse, deslembrava
gestos e sorrisos
misturava as histórias
apagava essa geografia
guardada em dedos
aflitos desbravando a pele.

pudesse, mais um pouco,
desamarrava mágoas
deslaçava suavidades
quase como se fosse voar.

pudesse tanto
e tantas vezes,
começaria eternamente
desse zero redondo
esquecia o mundo
e partia, suavemente,
a reaprender violáceas
a redescobrir assombros.

 
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A todos, uma semana
nascida de novo,
recomeçada do zero.

Um beijo,
Paula