Leituras da semana
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Queridos amigos,
Há semanas que iniciam e terminam em festa, mas apesar disso acontece de tudo entre esses dois momentos de alegria. E é bem isso o que nos conta a Semana Santa, que inicia com palmas e ramagens verdes pavimentando a rua, a alegria enfeitando o hall de casa.
No curso dessa semana especial, desafios assombrosos que sequer imaginamos se apresentam, e essas provações vão sendo enfrentadas, invariavelmente. Ao fim de tudo, no entanto, podemos escutar as cantigas da Páscoa, entre banquetes e chocolates, naquela felicidade que sobrevém à tristeza, e que nos une ainda mais. Uma semana pode muito bem resumir a vida.
Sim, eu também gostaria de falar de mãos infantis, leves e trêmulas, no segurar e acender de seu primeiro balão, quase como se fosse promessa; no soltar desse balão como se pudesse falar com Deus.
Durante muito tempo isso foi uma arte, uma mágica feita de ar e de fogo, um momento de cumplicidade de homens e meninos. Mas desde 1998 soltar balões virou crime e, apesar de alguns não terem conseguido ainda abandonar a beleza dessas tradições, não há nenhum lugar seguro no meio dessa vegetação ressequida e das nossas cidades frágeis e comburentes para dar continuidade às práticas setecentistas, sob pena de incêndios, mortes e outras perdas.
Engraçado como tudo isso me faz reparar que algumas leituras também simulam morte e renascimento, e assim me incendeio seguramente em casa, entre livros e outras diversões boas de fazer arder.
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Dicas da semana (04.04.2009 a 10.04.2009) |
Lançamentos  - segunda, dia 6, tem "Obras de Shakespeare - vol. 2", organizadas e traduzidas por Barbara Heliodora, às 19h na Argumento Leblon. Iniciativa da editora Nova Aguilar. -
terça, dia 7, é a vez de Jurema Oliveira assinar "O espaço do oprimido
nas literaturas de língua portuguesa - Graciliano Ramos, Alves Redol e
Castro Soromenho", a partir das 19h na Kitabu Livraria Negra (r. Joaquim Silva, 17, Lapa) e Mariângela Stampa, às 18h30, mostra como se dá a "Aquisição da leitura e da escrita", na Livraria do Museu da República. (...) - depois da quarta, é fazer jejum até o domingo de Páscoa. -
Na outra semana, a Libre Editora, em comemoração aos 400 anos da 1ª
edição (1609-2009) dos sonetos shakespeareanos, já preparou um mimo: "154 Sonetos",
de autoria de William Shakespeare, com tradução de Thereza Christina
Rocque da Motta, será lançado no Rio, na quinta-feira, dia 16 de abril
(depois da Semana Santa), na Livraria do Museu da República, a partir das 18h30. Preço do livro: R$ 40,00; ler a poesia de Shakespeare: não tem preço. Eventos, concursos, premiações, etc.- O IV Prêmio OFF-FLIP de Literatura
abre inscrições para contos e poesias até 5 de maio. (...) - Ainda abertos: 51º Prêmio Jabuti e Prêmio Leya. É melhor correr, para não deixar para a última hora. -
O CCBB apresenta, a partir do dia 8 de abril, quarta-feira, a série
"Jornalismo Literário", que inicia com o debate "O new journalism e as
experiências inovadoras do jornalismo brasileiro" (...). - Dia 13.04, logo na segunda-feira, das 20h30 às 23h30, tem a segunda Ponte de Versos, com Maria Rezende (Bendita Palavra, 7Letras: 2008), Igor Fagundes (com diversos livros) e a escritora Cyana Leahy-Dios
(também veterana), lançando (RE)CONFESSO POESIA (7Letras, 2009, prefácio de Flávia Savary, apresentações de Roberto Kahlmeyer-Mertens e
Fabrício Carpinejar). O evento acontece na Livraria DaConde. (...) Outras novidades - A entrevista que eu concedi ao jornalista e escritor Rodrigo de Souza Leão já está publicada online pela Germina Literatura. Ficou bem bonita e decorada - o mérito é todo do Rodrigo. -
O interessante livro estrangeiro "História do livro", de Frédéric
Barbier, já está disponível no mercado brasileiro, pela Editora
Paulistana, e tem uma ótima resenha do novo livro de Mia Couto "O fio
das missangas" no Prosa&Verso desse sábado, vale conferir. Leia mais...Fontes: Caderno Prosa&Verso, O Globo, Suplemento Ideias&Livros, do Jornal do Brasil e mailing pessoal da autora. |
Germinações e florescências
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O jornalista Rodrigo de Souza Leão, autor de 'Todos os cachorros são azuis',
livro lançado em 2008 e premiadíssimo pela Petrobrás (resenha feita em
14 de dezembro de 2008), fez a delicadeza de me perguntar o que nem eu
imaginava que saberia responder.
Acredito que
fez isso, antes de tudo, porque a poesia já nos havia tornado um pouco
cúmplices, um tanto próximos, e bastante curiosos sobre o que se passa
na cabeça de um poeta da pós-contemporaneidade, do pós-capitalismo, do
pós-século-vinte-e-um.
O resultado está
virtualmente estampado na edição de março da 'Germina, Literatura, Arte, etc.', a revista literária mais antenada da internet.
Cliquem lá, para repararem nas perguntas capciosas do Rodrigo, e nas minhas respostas ainda mais maliciosas: Germina Literatura.
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 O ponteiro ultrapassava os 160km/h, mas ela nem reparava no painel.
Olhava
apenas adiante, ao longe e distante, divisando o horizonte da estrada.
Quase não havia outros carros na rodovia vazia e atapetada de folhas
que se desarrumavam com fúria e voltavam ao chão em rodopios suaves
com o passar brusco das rodas.
Era o último Carnaval que
passaria naquele torpor solitário ao lado dele. Tinham ido à praia,
naquela manhã de terça-feira e sequer conseguiram trocar sílabas e
palavras. Como de hábito, somente perguntas breves, seguidas de
respostas insossas. 'Quer coco?', 'Não, obrigada'; 'Trouxe protetor?',
'Está na bolsa'; 'Já quer ir?' 'É, pode ser'. Juntos há mais de quinze
anos. Falaram-se tudo o que se havia para falar. E as palavras se
gastaram, se desgastaram, se acabaram, as palavras se foram perdendo
dela, se rareando pouco a pouco, talvez o tempo as tivesse levado para
nunca mais.
O carro alcançando o pé da serra e ela precisou
colocar a música no último volume, algo que preenchesse seu estupor.
Queria que o vórtice de sons interrompesse o filme que rodava
ininterrupto, em sua lembrança.
Assim que chegaram da praia,
depois do banho, ela sentou na cama, indiferente, sem lágrimas.
Deitou-se, na rotina do cochilo que sobrevinha ao banho de mar.
Encolhida, de lado, fez um esforço para suplantar a própria mudez e
falou, brevemente: 'Eu quero ir embora. Para sempre.'
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Dúvida: quem atuou melhor?
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 - Dúvida. EUA, 2008.
Ao
final do filme "Dúvida", a impressão é de que houve um duelo de
gigantes. Não é para menos: Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman
protagonizam uma história que é adaptação de uma peça de teatro de John
Patrick Shanley, dramaturgo, roteirista e diretor.
Não há
dificuldade nos diálogos, mas profundidade. Isto porque as atuações são
pontuadas pelos sermões dominicais de um padre progressista, em plena
revolução sócio-cultural, nos idos de 1964.
Meryl Streep, na
pele de Aloysius Beauvier, interpreta uma freira linha-dura,
responsável por um colégio católico. Seymour, preciso na bata do padre
Brendan Flynn, é o padre que condena a rigidez da diretoria da
instituição de ensino, sob comando da freira Aloysius.
A trama
parte da desconfiança da freira com relação ao seu superior-hierárquico
- o padre - e da reprovação, com risos de ridículo, com que o padre
considera os excessos do ensino quase-medieval da diretora. O estopim
para a guerra começar é a suspeita de que um dos alunos, justamente o
aluno negro e discriminado Donald Miller, esteja sendo vítima de abusos
por parte do padre Brendan.
(...)
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A todos, uma semana abençoada.
Um beijo,
Paula
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