Leituras da semana
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Queridos amigos,

A preguiça é quem puxa mais uma vez o cobertor, apesar da inconveniência dos minutos que se recusam a esperar.

Os chocolates espreitam a cada esquina, oferecidos e perversos com qualquer disposição para regimes às vésperas da Páscoa. Aliás, soube que eles andam cada vez menos preciosos, pela adição criminosa de açúcar e manteiga a dissolver o seu sabor e o meu deleite.

Acabo que me viro sozinha. O vício chega bem na madrugada, entre uma frase e outra de um livro qualquer (todo livro vira um livro qualquer na perspectiva de um hot chocolate).

A caneca de louça me canta como uma sereia, lá de longe. E, num pulo, já estamos nós quatro na cozinha vazia: eu e mais o frio, o silêncio e a fumaça fina que levanta daquela quentura que se acomoda entre as minhas mãos.

São as estripulias do outono que fecham a noite e trancam a casa.
Dicas da semana (28.03.2009 a 03.04.2009)

Lançamentos
 

- segunda, 30, tem "Os dez mais do Flamengo", de Roberto Sander às 19h na Saraiva MegaStore do Rio Sul;
- terça, 31, o mês termina com "Viva Favela", edição do Viva Rio, às 18h30, na Livraria Folha Seca (na Ouvidor, 37);
- e parece que ninguém quis lançar livro no Dia da Mentira...

Highlights

- A editora Hedra lança a coleção Poesias de Espanha, antologia com 4 volumes com textos das literaturas galega, espanhola, catalã e basca, todas marcadas pela Guerra Civil Espanhola, cujo fim completa 70 anos. A coletânea promete rebuliço nos poetas de plantão. Mais informações no site da Fl@p!
- Tem crônica nova, de minha autoria, no site da Revista Aliás (www.aliasrevista.net).

Eventos e cursos

- Marco Casanova, professor de filosofia da Uerj, ministra o curso "Introdução à história da arte - para uma pedagogia do olhar", entre 16.04 e 04.06.2009, no CCJF.

- 'Sempre um papo' apresenta Guilherme Fiúza no Acre. O novo livro do rapaz: "Amazônia, 20º andar" (Record), conta a saga de uma estilista carioca na floresta tropical.

- o Instituto de Desenvolvimento do Potencial Humano - IDPH, promove o curso "Desbloqueio para aprender idiomas", com duração de 2 dias. Mais informações no site da entidade.  

- A exposição Nós, de curadoria de Daniella Géo, no Museu da República, continua até 19.04.2009. Vale à pena conferir.

- A UBE convida para a palestra "Escritoras do século XIX em defesa dos direitos da mulher", de Helena Parente Cunha, na próxima quarta-feira dia 15.04, a partir das 16h.

- No Telezoom, a exposição "As mesas de Paris", de Isabel Becker, será inaugurada dia 01.04, das 20h às 22h.

Temporada de Inscrições

- Prêmio Leya 2009: inscrições abertas até 15 de junho. Regulamento no site da Leya.

- II Festival de Poesia Falada do Rio de Janeiro - Prêmio Francisco Igreja. Inscrições até 15 de agosto, na APPERJ. Informações no site da entidade.

- Inscrições para o Prêmio Jabuti 2009 continuam abertas no site da CBL.

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Fontes: Caderno Prosa&Verso, O Globo, Suplemento Ideias&Livros, do Jornal do Brasil e mailing pessoal da autora.
Lendo 'O leitor'


- Schlink, Bernhard. O leitor (Der vorleser). Tradução de Pedro Sussekind (ano da obra/copyright: 1995) RJ: Record, 2009.

 
Neste ano de 2009, já se passaram 69 anos do Holocausto. Aliás, holocausto não é exatamente o melhor termo para definir o assassínio em massa de judeus. O nome mais adequado é Genocídio, ou pogrom, muito embora aquele primeiro termo tenha sido adotado como referência para o extermínio de judeus na 2ª Grande Guerra, na Alemanha de 1945.

No entanto, chega uma hora em que revisões são necessárias, porque culpa e dolo se manifestam vários graus. E não se pode condenar coletivamente um país por quase um século, pois cada um deve receber a pena na exata medida de sua culpabilidade. Aliás, esse conceito jurídico já era corrente ao tempo dos julgamentos que se sucederam ao final da Guerra. 'O Leitor' é, portanto, um livro lançado exatamente 50 anos depois do início dos julgamentos e que pretende lançar uma luz, com um certo distanciamento, sobre tudo o que houve, na perspectiva do jovem alemão que não participou ativamente da Guerra, mas que foi por ela marcado.

É isso que está no cerne do livro "O leitor". O grau de responsabilidade de cada indivíduo em particular, quanto ao evento nefasto. Entender de outra forma seria dizer que todos os alemães foram culpados do horror que também assolou a sua própria sociedade.

O texto é contundente, amargo, culpado e arrebatador. A narrativa forte e rascante contém um certo tom melancólico, como um estranho relatório que também sugere sentimentos e que, pela parcimoniosidade no uso de adjetivos, é ainda mais impressionante. Feito 'whisky cowboy'. (...)

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Perspectivas de Zeh

- Gustavo, Zeh. A perspectiva do quase. São Paulo: Arte Paubrasil, 2008.

Gustavo Dumas, a partir de um olhar sobre a lógica contemporânea do produto acabado, desenvolve um poeta-narrador, um alter-ego, e personifica Zeh Gustavo, o real autor dos poemas contidos em 'A perspectiva do quase'.

Gustavo usa, portanto, a mesma técnica de Cesare Pavese, cujo livro de poesias 'Trabalhar cansa' (Cosac Naify, 2009, trad. de Maurício Santana Dias, edição original em italiano, 1936, 'Lavorare stanca') foi recentemente resenhado por José Castello em sua coluna semanal do Caderno Prosa&Verso, de O Globo (sábado, 21.03.2009). Em termos comparativos, Cesare desenvolve três poetas a partir de si mesmo, cada um com sua perspectiva poética particular. Como bem observado por Castello, "Só o poeta (que lê o mundo nas entrelinhas consegue perceber, sob o tédio, uma convulsão. O poeta? Ou o sujeito que, nele escondido, o faz escrever?"

Gustavo, diferentemente de Pavese, desenvolve apenas um poeta dentro de si e será através das lentes desse personagem interno que Gustavo desenvolverá seu trabalho poético-literário.  (...)

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Quem quer ser um milionário?


- Quem quer ser um milionário? (Slumdog millionaire), EUA/Inglaterra, 2008. Direção de Danny Boyle e música de A.R. Rahman.
 
Finalmente, uma história de amor que não acontece em Nova Iorque. 'Quem quer ser um milionário?' é justamente isso: uma história de amor e sonho contada numa explosão de cores e sentidos, bem distante do acinzentado frio novaiorquino. Muito embora a Índia não tenha se sentido representada em 'Quem quer ser um milionário?', o filme disparou na crítica e arrebanhou 8 estatuetas dos Academy Awards, justamente por trazer uma abordagem e ambientação que não são nada tradicionais na indústria hollywoodiana.

Seus concorrentes, de fato, não lhe fizeram qualquer ameaça: Benjamin Button, um filme morno e melancólico, nas raias da chatice; Milk, o drama de um político homossexual nos EUA puritanos dos anos 70; e O Leitor, uma releitura do Holocausto com matizes de romance. Tudo isso não poderia mesmo enfrentar a vivacidade, a realidade, a quentura de 'Slumdog millionaire'. (...)

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A todos, uma semana de quenturas au chocolat.

Um beijo,
 
Paula