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Queridos amigos,
O ano de 2008 está devidamente encerrado. Depois das festas, champagnes e cerejas, depois dos panetones, das compras de Natal e das reflexões de sempre sobre essa época do ano, finalmente ele passou. Puf!
Entretanto, continua próxima a lembrança de que devemos nos reunir e pensar no que realmente nos é mais caro. Ainda experimentamos a introspecção sobre tudo o que passou e sobre o que pretendemos para o resto das nossas vidas. Entre retrospectivas, planos, luzes e fogos, com fitas coloridas presas na roupa de baixo, ficamos acordados para ver a noite do último dia passar, para ver o sol raiar um outro ano inteiro só pra nós.
Janeiro é um mês de inícios e, felicidade!, estou de férias ao sul do equador. Esse azul profundo me anima demais, a claridade me tira da cama e me incita a fazer melhor, a aproveitar cada oportunidade como se fosse única, a continuar soando minha voz nesse infinito em torno, à espera de que ela encontre ecos, na esperança de que me seja permitido preencher vazios. Não fosse isso, e eu seria mais uma fresca a gritar no solapar das ondas geladas do Rio.
Enquanto aqueço os motores para a corrida do ano e termino meu copinho de sorvete Itália, compartilho o pouco que fiz de dezembro para cá.
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Todos os cachorros são azuis |
- Leão, Rodrigo de Souza. Todos os cachorros são azuis. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008. As pelúcias de Rodrigo de Souza Leão. "Abro
'Todos os cachorros são azuis' e, com ele, as portas para um mundo
imagético bem elaborado, onde a fantasia se mescla à realidade em
planos superpostos e estranhamente lúcidos. O narrador, com a
clarividência que lhe é possível através de suas lentes e filtros
peculiares, é internado numa clínica para doentes mentais e mostra, com
seu enfoque único, as belezas e tragédias da loucura. Rodrigo
não é o primeiro, nem será o último, escritor que porta uma doença
mental. Antes, talvez tal condição apenas não fosse diagnosticada, de
modo que tais autores podiam, livremente, criar e expor obras de rara
excelência. No entanto, o reconhecimento público dessa condição e a
aceitação do trabalho de Rodrigo é um passo firme na direção da
superação da segregação e dos preconceitos, tanto pelas editoras como
pelo público leitor. As alternâncias de seus estados de
percepção se assemelham a Dr. Jekyll e Mr. Hyde, pois a lucidez
acompanha as bolinhas coloridas e, de alguma forma, o narrador sente
uma certa melancolia ao tomá-las e ser obrigado, assim, a sair de seu
ambiente lúdico para as limitações tediosas da razão. Ler
"Todos os cachorros são azuis" é resgatar uma infância proibida aos
adultos, redescobrir a fluência de uma imaginação prodigiosa e rica, um
humor essencial há tanto perdido e, ao mesmo tempo, constatar as
atrocidades que são feitas em nome de uma suposta 'normalidade'
padronizante do comportamento social esperado. Poetas,
artistas, loucos e crianças. No mundo da razão, no mundo da assepsia
cultural imposta no século XX, tradicionalmente foram postos a par da
racionalidade aceitável, pela exacerbação de sua sensibilidade em
desconformidade com o padrão vigente. Nem sequer os auto-denominados
movimentos vanguardistas foram capaz de romper as barreiras
discriminatórias contra eles. No século XXI, talvez sejam eles
os responsáveis por uma mudança de paradigma, de linguagem, onde o
sentimento não é mais contraposto à razão, mas sim sua complementação
natural e imprescindível. Aceitando nossa humanidade primordial, com
seus tantos defeitos, é Rodrigo quem nos ensina a criar uma nova
religião, resgata um novo ideário fundante, nos ensina a ser um pouco
mais poetas e artistas, um pouco mais loucos e crianças." Ler mais...
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- Blindness. (Brasil, Canadá, Japão), 2008.
Demorei
um pouco a assistir "Ensaio sobre a cegueira". Não havia lido o livro,
acabei por dar ouvidos a quem me disse que o filme era muito forte e
com cenas de chocar o público, coisa que normalmente não me seduz. Erro
grande.
"Ensaio sobre a cegueira" não é, como
muitos dizem, um filme apocalíptico. Isso quem rotineiramente faz são
os estúdios de Hollywood, haja vista o grandioso número de longas em
que o mote central é como um americano tosco e sem-noção tem condições
de "salvar o mundo" ou "salvar" qualquer outra situação sempre
insolúvel a todos os especialistas e experts do assunto versado (e ai
de quem critica de forma desairosa tais filmes campeões-de-bilheteria).
Voltando
ao romance de José Saramago, "Ensaio sobre a cegueira" nos fala de como
o equilíbrio pessoal e social é frágil e pode ser quebrado a qualquer
momento. Não com ameaças externas, como vulcões, bombas atômicas,
acidentes, extraterrestres, super-vilões ou mega-meteoros, mas com algo
que diz respeito à nossa própria condição coletivamente considerada. O filme fala do que somos e do que podemos nos tornar em condições adversas de luta pela sobrevivência.
E ao retratar a obra de Saramago, Fernando Meirelles foi magistral, na medida em que o filme não demanda nenhum conhecimento literário prévio para sua perfeita compreensão e, ainda, permite a apreensão da dimensão essencial de nossos mais básicos sentidos, quando ausentes.
Aliás,
o filme, assim como o livro, sequer nomeia seus personagens,
impessoalizando totalmente a história. As personagens são qualquer um
de nós, na mesma circunstância.
Claro que
Fernando Meirelles explora ao máximo seus recursos para impressionar o
público. De outra forma, o filme seria morno, uma água-com-açúcar
incapaz de gerar sustos, nojo, ódio e outros sentimentos que comprovam,
antes de mais nada, a capacidade do diretor de envolver completamente
seu espectador na ilusão cinematográfica.
Obviamente, o trabalho perfeito de Julianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover, o mexicano Gael Garcia Bernal, os dois japoneses e, claro, a brasileira Alice Braga,
contribuem em muito para o resultado harmônico final e a condição de
Julianne, a única pessoa imune dentre os deficientes, não chega a
incomodar.
Ao contrário, é ela quem serve de
narradora e de julgadora onisciente (porque vê tudo) de tudo o que
ocorre em torno da perda do sentido visual. E sofre terrivelmente por
isso: sua melhor bênção é também o seu pior martírio. Julianne, naquele
aglomerado de pessoas sem nome e sem visão é o elo entre o seu bando de
cegos e o que resta de humanidade, dignidade e decência em todos nós.
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 - Madagascar: Escape 2 Africa. (EUA, 2008). Veja o site em português. A estrela de Madagascar 2 não é o leão Alex ou a zebra Marty, muito menos Melman, a girafa ou Glória, o hipopótamo. Quem
brilha em Madagascar 2 é o rei Julien com seu fiel escudeiro Maurice e
a trupe de pingüins, coadjuvantes que já haviam roubado a cena no longa
anterior e, talvez por isso, tenham recebido maior atenção dos
diretores da Dreamworks. Nesta nova aventura, os
quatro amigos conseguem sair da ilha, mas não chegam ao destino
esperado. Aterrissam num pouso de emergência, no coração da África e
acabam encontrando ali suas origens. A par do
capricho no desenvolvimento dos novos conflitos de Alex, Marty, Melman
e Glória, eles acabam servindo de tema-base ou fio condutor para a
apresentação dos pingüins, das aparições impagáveis de Julien e suas
concepções da vida real e a forma inusitada como resolve os problemas. As
questões da afirmação do filho artista e diferente frente à sociedade
tradicionalista, ou os problemas de identidade num mundo de iguais, até
são papos-cabeça que podem render boas conversas entre os adultos e
seus pequenos cinéfilos, mas o libelo novaiorquino da Vovó (Elisa
Gabrielli) e a repetição da questão ambiental eram efetivamente
dispensáveis. Não porque a agenda ambiental seja
um tema desimportante, mas sim pela repetição cansativa do tema já
batido e pela ausência de uma abordagem criativa ou que realmente
fizesse acréscimos ao que já é por demais conhecido dos espectadores
dos filmes infantis dos estúdios norteamericanos. De resto, Madagascar 2 é excelente diversão para adultos e crianças neste recesso de fim-de-ano e, merecidamente, alcançou a pole position da bilheteria dos cinemas, mandando "007 - Quantum of Solace" para o final da lista. Leia mais...
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Uma retrospectiva literária e cinematográfica do ano. Felizmente, em 2008, houve vida além de Machado de Assis. Quem brilhou em 2008, em ordem cronológica: A alma imoral. Nilton Bonder. Sphera. Marco Lucchesi. Os melhores poemas de Affonso Romano de Sant'Anna. Affonso Romano de Sant'Anna. Esse ofício do verso. Jorge Luis Borges. A Cegueira e o Saber. Affonso Romano de Sant'Anna. O menino da chuva no cabelo. Márcio Vassallo. Tempo de delicadeza. Affonso Romano de Sant'Anna. Quem ama literatura, não estuda literatura. Joel Rufino dos Santos. Onde os fracos não têm vez. EUA, 2008. Desejo e reparação. Inglaterra, 2007. Meridiano celeste. Marco Lucchesi. Vida de equilibrista. Cecília Russo Troiano. Carla Bruni. Juno (EUA/Canadá/Hungria, 2007). A literatura nos jornais. Claudia Nina. Horton e o mundo dos Quem. (EUA, 2008). De cabeça baixa. Flávio Izhaki. A confissão. Flávio Carneiro. Somos todos iguais nesta noite. Marcelo Moutinho. O ponto da partida. Fernando Molica. Dois irmãos. Milton Hatoum. Todos os ventos. Antonio Carlos Secchin. A vida dos outros. (Alemanha, 2006). Vestígios. Affonso Romano de Sant'Anna. Um beijo roubado. (EUA, 2007). Para viver com poesia. Mario Quintana. O silêncio dos amantes. Lya Luft. Aprendiz do tempo. Ivo Pitanguy. De todas as únicas maneiras & outras. Jorge Viveiros de Castro. O piano de Rodrigo Zaidan. A casa toda nave cega voa. Álvaro Guilherme Miranda. 10ª edição da FNLIJ no MAM. Órfãos do Eldorado. Milton Hatoum. Trovar claro. Paulo Henriques Britto. O homem que matou o escritor. Sérgio Rodrigues. O cabotino. Paulo Polzonoff Jr. A sedução da palavra. Affonso Romano de Sant'Anna. Inimigo Rumor # 20. org. Carlito Azevedo. Indiana Jones e o reino da caveira de cristal. (EUA, 2008). Cosmologia do impreciso. Oswaldo Martins. Cinemateca. Eucanaã Ferraz. A musa diluída. Henrique Rodrigues. Lampadário. Denise Emmer. As crônicas de Nárnia - Príncipe Caspian. (EUA, 2008). O artista inconfessável. João Cabral de Melo Neto. A mulher/os rapazes da história da sexualidade. Michel Foucault Leão Lírico. Elaine Pauvolid. Discurso sobre a felicidade. Madame du Châtelet. O tigre de veludo. E.E. Cummings. A distância das coisas. Flávio Carneiro. Batman - o cavaleiro das trevas. (EUA, 2008). Satolep. Vitor Ramil. Poemas rupestres. Manoel de Barros. O livro dos sentimentos. Maria Isabel Borja e Márcio Vassallo. Como ouvir. Plutarco. P.S. Eu te amo. (EUA, 2007). Canalha! Fabrício Carpinejar. Afrodite in verso. Paula Cajaty. Mamma Mia! (EUA, Alemanha, Inglaterra, 2008). Rasif - mar que arrebenta. Marcelino Freire. 007 Quantum of Solace. (EUA, 2008). Rakushisha. Adriana Lisboa. Todos os cachorros são azuis. Rodrigo de Souza Leão. Ensaio sobre a cegueira. (Brasil, Canadá, Japão, 2008). Madagascar 2. (EUA, 2008). e Vicky Cristina Barcelona (EUA, Espanha, 2008), fechando o ano com chave de ouro.
Agora é esperar para ver o que 2009 nos traz de bom!
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